Atividade em abril sinaliza segundo trimestre ainda pior
Venda de papelão, fluxo de veículos pesados, consumo de energia e intenção de consumo caíram no mês passado
De 8 consultorias ouvidas, 7 estimam queda mais acentuada do PIB; projeções vão de -0,5% a -1,3%
Se os três primeiros meses do ano foram ruins para a economia, com queda de 0,2% no PIB, o segundo trimestre deve ser ainda pior, apontam indicadores da atividade econômica em abril.
Chamados de indicadores antecedentes, eles ajudam a medir o que ocorre na economia real e sinalizam tendências. É o caso do papelão ondulado. Usado na confecção de embalagens, é um valioso indicador de produção. No mês passado, segundo dados da ABPO, associação do setor, as vendas ficaram 2,2% abaixo das de abril de 2014.
O fluxo de veículos pesados, que capta o transporte de mercadorias, caiu 6,1% no primeiro mês do segundo trimestre ante o mesmo período de 2014, de acordo com a ABCR, associação de concessionárias de rodovias.
Também houve retração no licenciamento de veículos novos, que indica como andam as vendas. No mês passado, o número foi 25% menor do que o de abril de 2014.
O consumo de energia seguiu em queda no ano pelo quarto mês consecutivo. Segundo o governo, boa parte da redução ocorreu diante da menor demanda da indústria -- ou seja, a produção nas fábricas está caindo.
As famílias, por sua vez, desejam cortar mais gastos. No primeiro trimestre, o consumo das famílias caiu 1,5%, a maior queda desde o fim de de 2008, quando estourou a crise financeira. E o aperto no orçamento deve continuar.
O índice de intenção de consumo, calculado pela CNC (Confederação Nacional do Comércio), alcançou em maio o menor patamar desde 2010, quando foi criado. "A situação ainda deve piorar no segundo trimestre, antes de começar a melhorar", diz Fabio Bentes, economista da CNC. A entidade usa o indicador para antecipar o potencial de vendas do comércio.
O indicador é um dos que mais preocupam analistas.
"Já esperávamos queda no investimento e no consumo do governo. O que chama a atenção agora é o consumo das famílias, que vinha segurando a economia, mas está caindo num ritmo muito forte", diz Thiago Biscuola, economista da RC Consultores.
Do lado dos empresários, o pessimismo indica que os investimentos devem seguir represados. O Índice de Confiança da Indústria, da FGV, chegou em maio ao patamar mais baixo da série histórica, iniciada em abril de 2005. O indicador mede tanto a situação atual como a a expectativa de produção e vendas para os próximos meses.
EM QUEDA
De 8 consultorias ouvidas pela Folha, 7 estimam queda mais acentuada no PIB no segundo trimestre. As projeções vão de -0,5% a -1,3%.
"O primeiro trimestre não foi o fundo do poço. Os indicadores de confiança de empresários e consumidores mostram que podemos esperar desemprego maior, renda real em queda, consumo mais fraco, menos investimento", diz Bernard Goni, da Bozano Investimentos, que reviu a estimativa para o segundo trimestre de -1,0% para -1,2%.
A consultoria Tendências foi a única prever desempenho estável, de -0,2%.