Dilma usará visita aos EUA para "vender" pacote de concessões
Investidores, no entanto, querem detalhes sobre modelos antes de decidir sobre participação
Presidente deve encontrar executivos de empresas de tecnologia na Califórnia e pretende visitar a sede do Google
A presidente Dilma Rousseff vai usar sua visita aos EUA, no fim do mês, para "vender" o ajuste fiscal e tentar atrair recursos para o pacote de concessões anunciado na terça (9).
A presidente deve encontrar investidores em Nova York, autoridades em Washington e presidentes-executivos de empresas de tecnologia na Califórnia.
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, deve abrir no dia 29 seminário de infraestrutura para empresários em Nova York, no qual vai expor as medidas do ajuste fiscal e o pacote de concessões. Enquanto isso, Dilma e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reúnem-se com investidores a portas fechadas em um hotel da cidade, para falar das medidas de austeridade e tentar proteger o grau de investimento, segundo apurou a Folha.
Caso não haja mais detalhes em relação ao modelo das licitações, a ofensiva deve ter recepção morna.
Investidores americanos encaminharam sugestões ao governo sobre como tornar as concessões mais atraentes, entre elas fatiar as licitações em projetos menores e mais específicos de cada obra.
"Por motivos óbvios, nenhum empresário está confortável em pôr dinheiro no Brasil agora, e queremos ver o que mudou no modelo das concessões", disse à Folha um empresário americano.
Se mudarem os modelos, haveria interesse em investir em portos, ferrovias e aeroportos, unindo-se a construtoras brasileiras médias que não estão em dificuldades por causa dos escândalos de corrupção.
De Nova York, Dilma e sua comitiva rumam para Washington, onde participam de jantar na Casa Branca com um grupo pequeno de convidados. Sem agenda definida, servirá para que a brasileira e Barack Obama possam se conhecer mais.
Dilma deve passar a noite na Blair House, a casa de hóspedes do presidente, ao lado da Casa Branca. Na manhã do dia 30, reúne-se com Obama no Salão Oval. No mesmo dia, o vice-presidente Joe Biden recebe Dilma no Departamento de Estado para almoço com 200 convidados.
A partir daí, a agenda ainda está em negociação. O Brasil demonstrou interesse em um encontro com a ex-secretária de Estado Madeleine Albright, grande amiga da candidata à Presidência Hillary Clinton. Também se cogitou um evento na US Chamber of Commerce, com empresários.
O grande obstáculo é que o Planalto não aceita que a presidente responda a perguntas da plateia, por receio de que seja submetida a constrangimento. Por isso, foram descartados eventos no Brookings e CSIS, dois dos principais centros de pesquisa (think tanks) de Washington.
De Washington, Dilma deve ir a São Francisco para se reunir com presidentes-executivos de empresas de tecnologia. A Folha apurou que ela pretende visitar a sede da Google, em Mountain View, e se encontrar com os reitores das universidades Stanford e da Califórnia. O Google soube do interesse da Presidência, mas diz que não há confirmação.
Marcada em abril, a visita terá menos pompa que a prevista visita de Estado em outubro de 2013, cancelada após o escândalo de espionagem da presidente pela inteligência americana.
Não haverá jantar de gala. Os governos devem assinar acordos de compartilhamento de informação militar, que vão permitir compra de tecnologias sensíveis dos EUA. Será assinado memorando de entendimento para cooperação em ensino técnico.
Os americanos lutam para arrancar do Brasil um compromisso mais palpável em redução de emissões. Prioridade para Obama seria assinar com o Brasil um acordo semelhante ao firmado com a China em novembro.
Ainda há chance de que os últimos obstáculos para a exportação de carne bovina aos EUA sejam removidos.