Presença de mulher em nota de US$ 10 gera controvérsia
Defensores do atual homenageado dizem que é um erro substituí-lo; campanha no início do ano queria trocar imagem da de US$20
Quando o Departamento do Tesouro dos EUA anunciou na semana passada que, pela primeira vez em mais de um século, uma mulher vai aparecer em uma cédula de dólar, não levou em consideração um ponto: Alexander Hamilton (1755/57-1804).
A escolha da cédula de US$ 10 para homenagear uma "mulher notável" que seja símbolo da "democracia inclusiva" do país também significa deixar de lado um dos mais interessantes pais fundadores dos EUA --produto de uma relação adúltera nas Índias Ocidentais e que morreu em um duelo.
O Tesouro, que só vai decidir no fim do ano a homenageada (a cédula entra em circulação em 2020), já disse que vai encontrar um jeito para continuar reverenciando Hamilton na nota de US$ 10.
Apesar das promessas do governo americano, foi rápida a reação dos defensores de Hamilton, primeiro secretário de Tesouro dos EUA.
"É triste e chocantemente equivocada a decisão do secretário do Tesouro, Jack Lew, diminuindo a importância do principal secretário do Tesouro da história americana", afirmou Ron Chernow, autor de uma biografia sobre Hamilton que vai dar origem a um musical na Broadway.
"A presença de Hamilton na nota de US$ 10 era importante em termos de valorizá-lo no panteão de heróis políticos dos EUA. Afinal, a imagem dele não está gravada no monte Rushmore e ele não tem um memorial grandioso em Washington. Então, a sua forma de reivindicar fama estava na imagem gravada na cédula de US$ 10", disse Chernow, que defendeu a escolha de uma mulher para uma cédula de dólar.
Para piorar a dor dos admiradores de Hamilton, Andrew Jackson, controverso presidente dos Estados Unidos, vai continuar na cédula de US$ 20, que tem uma circulação muito maior do que a de US$ 10: 1,9 bilhão de notas desta, ante 8 bilhões da primeira.
A presença de Jackson na cédula de US$ 20 desde 1929 é um mistério: ele chegou a dizer que era contrário à ideia de papel-dinheiro.
Além disso, como lembrou o "Washington Post", ele defendeu políticas econômicas desastrosas que levaram ao pânico de 1837 (uma das recessões mais longas da história americana) e supervisionou a remoção forçada e a morte de milhares de índios.
No início deste ano, uma campanha chamada de "Women on 20s" (algo como "mulheres nas notas de 20") defendia que o presidente dos EUA, Barack Obama, tirasse a imagem do predecessor Jackson (1767-1845) e a substituísse pela de uma mulher.
Em eleição pelo site da campanha que reuniu mais de 350 mil votos e teve o apoio de famosos como a atriz Susan Sarandon, a escolhida para ser o rosto da cédula de US$ 20 foi Harriet Tubman, líder abolicionista negra do século 19.