Lava Jato e risco de racionamento reduzem investimento estrangeiro
Entrada de dólares no setor produtivo caiu 35% até maio
Gastos de brasileiros no exterior caem ao menor valor em cinco anos com alta do dólar e queda na renda
Uma série de eventos "não econômicos", segundo o Banco Central, contribuiu para reduzir em 35% os investimentos estrangeiros diretos em empresas no Brasil entre janeiro e maio deste ano, ante o mesmo período de 2014.
A Operação Lava Jato da Polícia Federal --que investiga o esquema de corrupção na Petrobras--, a dificuldade da estatal de divulgar o seu balanço e o risco de racionamento de energia e de água estão na lista de problemas que, segundo o BC, afastaram investidores e representaram uma entrada menor de dólares no setor produtivo.
Os investimentos diretos em empresas no país caíram para US$ 25,5 bilhões até maio. A expectativa do BC é que junho mostre novo recuo na comparação anual.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, como parte desses entraves foi superada, a instituição espera uma entrada maior de dinheiro a partir de julho --o segundo semestre também costuma ter maiores investimentos.
O BC espera fechar o ano com uma entrada de US$ 80 bilhões, queda de 17% em relação a 2014. Em relação ao PIB, que deve encolher neste ano, o peso dos investimentos deve ficar no mesmo nível do final de 2014 (4,1%).
A projeção do mercado é mais pessimista e está próxima de US$ 65 bilhões.
FINANCIAMENTO
Esse dinheiro ajudará a financiar a saída de recursos gerada pelo deficit do Brasil na transação de bens, serviços e rendas com outros países.
A projeção do BC para esse resultado negativo caiu de US$ 84 bilhões para US$ 80 bilhões, devido à queda nos gastos com serviços do exterior e no envio de lucros. Esses movimentos refletem a queda na atividade econômica. Na comparação com o PIB, o resultado negativo deve recuar de 4,5% para 4,2%.
"As contas externas vêm refletindo um ajuste que já temos mencionado desde o ano passado, influenciado principalmente pelo comportamento do câmbio e pelo menor crescimento da economia brasileira", afirmou Maciel.
No acumulado do ano, o deficit externo soma US$ 35,8 bilhões, 20% menor que no mesmo período de 2014. Parte da queda é explicada pela redução nas remessas de lucro ao exterior, que recuaram O envio de juros, por outro lado, cresceu 7%. Ou seja, os estrangeiros que investem no país lucram mais ao aplicar no mercado financeiro (US$ 9,2 bilhões) que no setor produtivo (US$ 7 bilhões).