Antes de plebiscito, gregos estocam remédio e alimento
Manifestações em Atenas reúnem milhares de pessoas, mas população continua sem entender consulta de amanhã
Pesquisas mostram que disputa entre "sim" e "não" está empatada; turismo local também sente efeitos da crise
Na véspera do plebiscito sobre um acordo com credores, os gregos foram às ruas se manifestar pelo "sim" ou pelo "não", sacar o limite permitido nos bancos e correr para a prateleira do supermercado e da farmácia e garantir suprimentos básicos até semana que vem.
Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro Alexis Tsipras fez dois pronunciamentos, um pela TV e outro para 20 mil simpatizantes em frente ao Parlamento, em Atenas, em que defendeu o voto contra a proposta de socorro dos líderes europeus e credores, no caso, FMI (Fundo Monetário Internacional) e BCE (Banco Central Europeu).
"Diga não para aqueles que estão tentando incitar o pânico, tentando evitar que você faça a melhor escolha para seu futuro", afirmou.
Além do protesto pelo "não", outros 20 mil, segundo a polícia, reuniram-se no Estádio Olímpico, mas para pedir voto pelo "sim".
A população teme a falta dinheiro nas máquinas no fim de semana e a incerteza do que vai ocorrer a partir de segunda-feira (6), dia seguinte ao plebiscito.
Por isso, as filas nos bancos crescem e estão mais constantes do que nos dias anteriores. Segundo o banco central grego, há € 1 bilhão garantido em dinheiro vivo nesses dois dias. Em maio, antes do agravamento da crise, os depósitos nos bancos do país estavam no menor patamar em 11 anos.
A reportagem presenciou cenas de pessoas esperando a reposição de dinheiro em caixas eletrônicos esvaziados. Em outros casos, só havia cédulas de € 20, prejudicando quem queria sacar, por exemplo, € 50, abaixo do limite de € 60 que começou a valer no início desta semana.
Os supermercados começam a apresentar falta de produtos de higiene, além de itens como açúcar e sal, por causa da correria em estocá-los e da falta de recursos dos estabelecimentos para pagar fornecedores.
FÉRIAS FRUSTADAS
Com o dinheiro mais escasso, sobrou até para as férias dos gregos. Desde o fim de semana passado --após anúncio do plebiscito--, caíram pela metade as reservas deles para o período entre julho e setembro.
Na terça-feira (30), dia do calote de € 1,6 bilhão do país no FMI, 22% dos voos de férias da população local foram cancelados.
O cenário também atinge o mercado de turistas estrangeiros. Segundo dados da Confederação Grega de Turismo, as reservas estão de 30% a 40% menores nesta semana do que no mesmo período do ano passado.
Estima-se que a economia grega tenha deixado de faturar € 1,2 bilhão nos últimos dias --valor que equivale a quase 1% do PIB do país.
O governo promete reabrir as agências e suspender o controle de capital após o plebiscito, apesar de o BCE não sinalizar disposição em aumentar a assistência emergencial que dá sobrevida aos bancos gregos.
EMPATE
As pesquisas divulgadas nesta sexta-feira (3) apontam um empate técnico entre os dois lados. A população continua sem entender direito os efeitos do plebiscito, anunciado de última hora por Tsipras após o rompimento das negociações.
"Não está claro o que vai ocorrer se eu votar no 'sim', muito menos no 'não'. Se eu votar 'sim', vou aprovar medidas de austeridade piores do que tivemos até hoje, e, se votar 'não', não sei o que vai acontecer com meu país", disse Anna Hatzidaki, 38, professora de linguística da Universidade de Atenas.
Segundo pesquisas, o "não" tem maior apelo entre os mais jovens, e o "sim", entre os mais velhos.
O Conselho de Estado, alta corte administrativa da Grécia, rejeitou o apelo judicial para cancelar a votação. O órgão analisou um recurso de dois cidadãos e manteve a realização da consulta.