Metalúrgicos rejeitam redução de salário
Para driblar a crise no setor, Mercedes propôs diminuição de 10% na renda e 20% na jornada em São Bernardo
Montadora informou que "terá de buscar alternativas diante de um excedente de 2.000 pessoas na fábrica"
Com 74% dos votos, os metalúrgicos da Mercedes-Benz rejeitaram a proposta de redução de 10% nos salários e 20% na jornada de trabalho em troca de manter os empregos dos 10,5 mil funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo até julho de 2016.
No total, 7.559 votos foram computados nas urnas instaladas em todos os departamentos. Somente 25% aceitaram o acordo e 1% se absteve de votar.
A proposta previa, além do corte de salário, reajuste menor em 2016, com reposição de metade da inflação medida pelo INPC acumulado em 12 meses encerrados em maio, mês da data-base.
Neste ano, os metalúrgicos da Mercedes já tiveram reajuste de 7,08%, referente à inflação de setembro de 2014 a abril deste ano. Receberam também a primeira parcela da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) de R$ 6.259 --a segunda vai depender do volume de produção que será atingido até dezembro.
A montadora tem queda de cerca de 40% nas vendas no acumulado do ano e já adotou várias medidas para enfrentar a demanda menor --semana reduzida, "lay-off" (suspensão do contrato de trabalho) e licença remunerada, entre outras.
A recusa à proposta surpreendeu o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que negociou a estabilidade por meses com a empresa.
Trabalhadores relataram à Folha que, ao ser apresentada, a proposta foi vaiada em uma assembleia que reuniu funcionários dos turnos da manhã e da tarde.
"Esperávamos a aprovação [da redução de salário e jornada] porque existe um clima tenso na fábrica, com as medidas já anunciadas", diz Max Pinho, coordenador do comitê sindical da montadora e diretor do sindicato, ao se referir ao fato de a Mercedes ter informado que há um excedente de cerca de 2.000 trabalhadores e ter demitido recentemente 300.
O dirigente diz que a vaia não foi para a proposta, mas sim à explicação de que a votação seria individual e secreta --ao contrário das votações normalmente feitas de forma aberta em assembleias.
AFASTADOS
Um grupo de 250 funcionários está em "lay-off" até 30 de setembro na fábrica de São Bernardo. Outros 75 empregados da fábrica de Juiz de Fora (MG) também têm contrato suspenso até novembro.
A produção em São Bernardo está parada desde sexta (3), por causa da emenda com o feriado de 9 de julho, e os trabalhadores só retornam na segunda-feira seguinte (13).
Em nota, a Mercedes-Benz informa que, com a rejeição da proposta, "terá de buscar outras alternativas diante de um excedente de 2.000 pessoas na fábrica".
"Se a proposta foi recusada, temos de melhorá-la", diz o sindicalista.