Acordo não elimina dúvidas sobre futuro da economia grega
Efetividade de medidas como meta de superavit primário é questionada por analistas
Sem apoio de parte dos aliados, premiê Alexis Tsipras deve sair enfraquecido da votação do pacote
O acordo de resgate à Grécia alivia as incertezas sobre a permanência do país na zona do euro, mas uma série de dúvidas ainda persistem.
A mais urgente é se o Parlamento grego vai aprovar nesta quarta (15) o amplo pacote de reformas exigidas pelos credores –mudanças tributária e previdenciária, privatizações, exigência de cumprimento de metas de superavit primário, entre outras.
A ala mais à esquerda do Syriza, o partida esquerdista do premiê Alexis Tsipras, já chamou o pacote de "uma humilhação para a Grécia". Aliados do partido, os Gregos Independentes (direita nacionalista) também já declararam que são contra o acordo, definido por eles de "um golpe da Alemanha".
Nesse cenário, o governo de Tsipras fica mais dependente –e, portanto, mais enfraquecido– do apoio da oposição, que já manifestou seu aval às reformas econômicas.
O auxílio da oposição deverá ser suficiente para que as medidas não travem no Parlamento, mas colocam em xeque a permanência de Tsipras no comando do país no futuro imediato –ainda mais depois do plebiscito do dia 5, em que 61% dos gregos se manifestaram contra novas medidas de austeridade.
A dúvida mais importante é o que vem a seguir: se o pacote (que ainda precisará ser aprovado por Parlamentos de países como Alemanha e Finlândia) será suficiente para reerguer o país ou, como questionam analistas, afundará a Grécia ainda mais na mistura de desemprego, recessão e dívida alta.
Os detalhes do pacote ainda serão discutidos nas próximas semanas (nem o tamanho foi fechado, será algo entre € 82 bilhões e € 86 bilhões), mas as exigências estabelecidas no documento de sete páginas foram suficientes para o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman chamá-las de "loucura".
Para os críticos, medidas como a exigência de superavit primário (e o corte de gastos automático caso as metas não sejam atingidas) e a recusa em aceitar perdão de parte da dívida grega vão só aprofundar os problemas.
A dívida do país representa 177% do PIB. As autoridades europeias fizeram agora apenas uma promessa vaga de negociar futuramente medidas como ampliação do período de pagamento.
A terceira grande questão é que a Europa mais uma vez mostrou-se dividida nas negociações de ajuda ao parceiro na união monetária. De um lado, os países do norte, pregando austeridade, do outro, os do sul, mais endividados, defendendo uma maior solidariedade com os gregos.
Por fim, resta ainda saber como será a vida dos gregos nos próximos dias. Os bancos estão fechados há duas semanas e não há previsão de reabertura. As instituições financeiras sofrem com esse cenário, e a população também, já que há uma restrição de saques (€ 60 diários, com alguns bancos já registrando falta de cédulas), o que afeta os negócios em geral.