Atrasos reduzem interesse por novo leilão de petróleo
Dois anos após a 11ª rodada, nenhum dos 41 blocos arrematados na margem equatorial recebeu licenças
Crescem as exigências para liberar licenças; queda no preço do petróleo também preocupa investidores
No momento em que o país se prepara para um novo leilão de blocos de petróleo, as empresas que adquiriram áreas na 11ª rodada, em 2013, ainda nem sequer conseguiram iniciar o trabalho de exploração dos campos.
Dois anos após o leilão, nenhuma das 41 áreas arrematadas na margem equatorial recebeu licença para iniciar o trabalho de sísmica, o primeiro da fase de exploração.
A Folha apurou que a demora, decorrente de atrasos na concessão de licenças pelo Ibama, é um dos motivos para o baixo interesse do mercado no próximo leilão –marcado para outubro.
A 11ª rodada encerrou um período de cinco anos sem leilões no Brasil e ofertou áreas na margem equatorial –litoral que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte.
Gigantes do setor –como a própria Petrobras, BG, BP e Statoil– e novatas no país (a britânica Chariot e a brasileira Ouro Preto, por exemplo) adquiriram blocos.
IMPASSES
No trabalho de sísmica, barcos disparam pulsos de ar em direção ao leito marinho para obter uma espécie de ultrassom do subsolo. A partir daí, decide-se quais os melhores locais para perfurar. A licença para a sísmica leva, em geral, um semestre para ser concedida, e a atividade no mar, até cinco meses.
Há poucas informações sobre o impacto da indústria na fauna marinha da margem equatorial. Diante disso, o Ibama dobrou as exigências para o licenciamento. Costumava pedir até seis medidas de mitigação do impacto ambiental. Pede agora 13.
A queixa é que, após o leilão ter arrecadado R$ 2,8 bilhões em lances, não há qualquer previsibilidade quanto ao licenciamento de seus principais blocos.
Em abril passado foi criada uma comissão de órgãos do governo e da indústria para acompanhar o processo e discutir a redução das exigências ambientais.
O Ibama pede, por exemplo, a instalação de um posto veterinário a cada três quilômetros de praia para receber animais doentes e o monitoramento com aviões da rota migratória de baleias.
"Temos que ser cuidadosos na análise da margem equatorial, e por isso o processo levou mais tempo", disse a presidente do Ibama, Marilene Ramos. "Vamos revisar o processo de licenciamento das próximas rodadas."
COMISSÃO
Na audiência pública sobre o próximo leilão, ocorrida no dia 9, no Rio, executivos e gerentes de petroleiras também apontavam como motivos para o menor interesse a baixa cotação do petróleo, que reduz a capacidade investimento das empresas; a crise na Petrobras, que paralisou a estatal e debilitou os fornecedores; e a manutenção da exigência de conteúdo local para novas áreas.
Discussões sobre uma possível mudança no modelo de exploração e as incertezas políticas também preocupam.