Com deficit de 0,8% do PIB, país fica longe da meta fiscal
Objetivo é economizar 0,15% até o fim do ano, mas, com atividade fraca, tendência é de mais resultados negativos
Resultados do primeiro trimestre e de junho são os piores das contas públicas desde o início da série histórica
O buraco nas contas do setor público cresceu nos seis primeiros meses deste ano e atingiu o patamar recorde de 0,8% do PIB nos 12 meses encerrados em junho, segundo o Banco Central.
A meta do governo é chegar a dezembro com esse indicador no azul, com um superavit primário (economia para reduzir a dívida pública) de 0,15% do PIB.
No primeiro semestre, foi feita uma economia de R$ 16,2 bilhões, pior resultado semestral já registrado na série que começa em 2001 e quase a metade do verificado no mesmo período de 2014.
Apesar de o valor estar acima da meta em termos nominais (R$ 8,75 bilhões), a perspectiva de analistas é que deficit significativos nos próximos meses possam reduzir essa economia e até transformá-la em resultado negativo.
Em junho, por exemplo, o rombo foi de R$ 9,3 bilhões, pior resultado para esse mês do ano já registrado pelo BC.
O problema está na queda de receita e no aumento de despesas na área federal. Estados e municípios, por outro lado, melhoraram seus resultados e economizaram R$ 19,2 bilhões, valor superior ao observado no mesmo período de 2014 (R$ 13,6 bilhões).
De acordo com o BC, a diferença entre as contas do governo federal e os gastos de Estados e municípios é sazonal. Como os cofres estaduais e municipais recebem na primeira metade do ano o dinheiro proveniente de impostos como o IPTU e IPVA, as receitas acabam reforçadas.
Além disso, muitos governos tomaram posse no primeiro semestre. "No primeiro ano de mandato, percebemos uma certa contenção [de gastos] nos meses iniciais", diz Tulio Maciel, chefe do departamento econômico do BC.
A tendência, de acordo com o BC, é que o desempenho regional seja mais fraco no segundo semestre.
Para o BC, os números apresentados nesta sexta (31) refletem o fraco desempenho da economia, além das dificuldades enfrentadas pelo governo na execução das medidas de aumento de receitas.
"Apesar das medidas adotadas no início do ano, com o objetivo de recuperar receitas e conter despesas, a fragilidade da atividade econômica se impôs, em termos de desempenho fiscal e arrecadação."
GASTO COM JUROS
Um dos principais objetivos do superavit primário é reduzir a dívida bruta, que chegou ao patamar recorde de 63% do PIB em junho. A previsão do governo é que o indicador alcance 66,4% em 2016 e, a partir daí, entre em uma trajetória de queda.
Um dos fatores que pesam sobre a dívida é o pagamento de juros, que nos últimos 12 meses até junho chegou a 7,32% do PIB, pior percentual desde abril de 2006. No semestre, as despesas com juros quase dobraram em relação ao mesmo período de 2014, em parte, por causa das perdas do BC com as operações de contratos de câmbio.