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Indústria do álcool turbina arte em ações de marketing
Um velho banco que já foi centro cultural perto do marco zero do Recife voltou a mostrar obras de arte. Mas as peças ali não estão expostas como num museu –na verdade, criam uma cenografia para noites encharcadas de vodca.
Stephan Doitschinoff, artista paulista que ganhou fama por suas intervenções gráficas nos muros da pacata Lençóis, no interior baiano, foi escalado pela Absolut para ambientar um bar temporário ali.
Por trás das obras, a festa em torno de drinques com nomes exóticos, como Antracnose, atesta um movimento em alta da indústria do álcool: turbinar ações de marketing em artes visuais para seduzir um público abastado e exigente com as aparências.
"Falei para a marca que queria fazer algo sobre consumo, então perguntei se ia mesmo ter carta branca, porque é meio paradoxal criticar isso em nome de uma empresa", diz o artista. "Mas eles foram deixando fazer as coisas sem nenhum impedimento."
Doitschinoff então criou uma fantasia distópica. Encheu de barrancos de terra e plantas tropicais o térreo do prédio, como se a natureza tivesse tomado conta de um mundo arrasado, e pendurou neons formando cenas apocalípticas nas janelas.
"Queremos que nossas marcas sejam criativas, então essas associações com artistas são superpoderosas", diz Collin Kavanagh, vice-presidente de marketing da Pernod Ricard, dona da Absolut.
Mais discreta, a William Grants & Sons, do gim Hendrick's, diz que dobrou de tamanho no país em dois anos e aumentou nessa proporção o investimento em eventos regados a gim –são 25 ao ano.
"A gente não busca um cara que sai para beber à noite. Estamos atrás do cara que toma o drinque dele e tem tesão de ver uma escultura que comprou quando chega em casa", diz Tomas Vieira, gerente de marketing da marca no país.