Entrevista - Marco Antonio Bologna
Incentivo com banco público deve ser pontual, diz executivo
Para presidente do Banco Fator, medida pode aliviar em momento extremo, mas o fundamental é reduzir custos
O uso de incentivos setoriais e de bancos públicos para impulsionar o crédito, medidas anunciadas na semana passada pelo governo Dilma, precisam ser apenas pontuais, segundo Marco Antonio Bologna, ex-presidente da TAM, que assumiu neste ano a presidência do Banco Fator. Para ele, está claro que a política de crédito subsidiado ou abaixo do custo de mercado já se exauriu.
Bologna classifica a crise pela qual passa o país como a mais grave dos últimos 40 anos, mas vê com otimismo os cenários de atuação do banco, tanto pela retração do financiamento público quanto pelos efeitos da concentração no setor bancário.
-
Folha - Qual o impacto da crise política nos negócios?
Marco Antonio Bologna - A crise é econômica, com o aspecto fiscal e o mundial, e política, em que os poderes têm dificuldade para a condução até da política econômica. Agregado a isso, há as investigações.
Acredito que nos últimos 40 anos não tenhamos assistido a tamanha crise institucional com tamanho reflexo na atividade. O grande problema hoje é o bloqueio do relacionamento de crédito e da fluência de negócios.
Vai piorar?
Ainda deve piorar. Inflação alta, queda de emprego e uma maior restrição de crédito criam um somatório que não é bom para ninguém. Esse ambiente de expectativa muito negativa inibe o investimento. Esperamos que se crie entre Senado, Câmara, Executivo, Ministério Público, Tribunal de Contas uma consciência da necessidade da reversão das expectativas para que o investimento flua.
Precisamos de um grande pacto nacional. Numa empresa, isso é normal. Se você tiver de fazer um 'turnaround' [reestruturação] numa empresa, mas houver resistências políticas ou paixões internas, não executa.
O governo volta a anunciar crédito para impulsionar setores. É a volta à era Mantega?
Algumas coisas pontuais são bem-vindas quando se faz o crédito público. Em qualquer economia do mundo há recursos direcionados com custo de capital atrativo.
Há três políticas: monetária, fiscal e cambial. Quando as dosagens não são adequadas, sobrecarrega uma ou outra. O país vive hoje uma taxa de juros alta, inibidora de investimentos e complicadora para quem deve. É difícil parar em pé em qualquer retorno de investimento.
Hoje, chutaria que talvez nem 10% das empresas no Brasil têm um retorno sobre capital investido maior que o custo de captação médio ponderado. Isso não é legal para criação de valor.
Agora, o emprego está sendo vinculado ao crédito: se não desempregar, terá acesso. Isso é difícil de sustentar. Pode ser usado momentaneamente, porque é muito difícil segurar um negócio que não tenha rentabilidade só com dinheiro subsidiado. Ele não se sustenta a longo prazo.
Tem que parar por aí?
Qualquer subsídio a longo prazo é insustentável. Seria melhor dar condição de custos para que a atividade tenha viabilidade. Somos um país caro, na logística, na energia. Daria mais condições uma reforma fiscal, de ICMS. Reformas estruturais seriam muito mais positivas do que a concessão de um crédito específico. Ele vai ser bom? Vai. Mas é tópico, não é um remédio. Não é o necessário.
Sua chegada ao banco é recente. Quais são os planos?
O banco de investimento tem esse papel de estruturar negócios ou analisar e pesquisar setores e dar informação para potenciais investidores. Isso vai ganhar maior relevância no Brasil daqui para a frente, até por uma menor participação do financiamento público. Chegamos a ter 50% do fornecimento de capital feito por recursos subsidiados ou abaixo de custo de mercado. Isso se exauriu.
Além disso, o mercado bancário como um todo observou várias concentrações. E, quando há maior concentração bancária, com fusões, o volume disponibilizado por essas empresas tem um impacto.
Se um banco A dava 100 e um banco B dava 100, não é verdade que, se o A se juntar ao B, o limite vai ser 200. Provavelmente, continuará sendo 100. Acreditamos que a oportunidade de negócios para um banco do nosso perfil focado na atividade de banco de investimento se torna também maior. Somos um banco líquido, com baixa alavancagem.
-
Marco Antonio Bologna
Idade: 60
Formação: engenharia de produção pela USP
Carreira: presidente do Banco Fator e do conselho de administração da Latam
Banco Fator/2015
Patrimônio líquido: R$ 332 milhões
Patrimônio sob gestão: R$ 4,9 bi
Funcionários: 360
Principais concorrentes: Sofisa, Indusval e ABC
-
NA INTERNET
Leia a íntegra
folha.com/no1674073