Queda à vista
Analistas revisam para baixo previsão de retração da economia
Projeções para 2015 variam de -2,5% e -3,0%; 3º trimestre também terá queda, mas menos intensa
Economistas apontam reduções no consumo das famílias e nos investimentos como influências negativas
O tombo maior que o esperado do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre, aliado à revisão para baixo dos dados de janeiro e março, fez com que economistas de bancos e consultorias de investimentos passassem a projetar desempenho econômico ainda pior em 2015.
As previsões dos analistas ouvidos pela Folha variam de -2,5% a -3,0%. Antes, ficavam em torno de -2%, em linha com o número apresentado pela pesquisa Focus, do Banco Central, na segunda-feira (24), de 2,06%.
"A forte revisão da contração no primeiro trimestre e um comportamento negativo do consumo das famílias já no início do ano surpreenderam", afirmou André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, que projeta retração de 2,5%. "Os dados forçaram uma revisão."
De acordo com o IBGE, a economia brasileira registrou retração de 1,9% entre abril e junho, na comparação com os três meses anteriores. No primeiro trimestre, a queda (revisada) foi de 0,7%.
Para Perfeito, o consumo deve cair ainda mais nos próximos trimestres, prejudicado pela piora no merca- do de trabalho, tornando- se o principal vetor de queda do PIB.
"A inflação elevada e o aumento do desemprego acabaram corroendo o poder de compra do brasileiro. Além disso, as incertezas econômicas reduzem a disposição para comprar e se endividar", disse Carlos Pedroso, economista-chefe do Banco de Tokyo-Mitsubishi.
QUEDA MENOR
No terceiro trimestre,o país ainda deve registrar retração econômica, embora de menor intensidade, segundo os analistas do mercado.
"Não imagino que tenhamos uma queda forte como a registrada no segundo trimestre, senão vai ser um desastre", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil.
"A recessão continua, mas em magnitude menor", afirmou Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Sérgio Vale, da MB Associados, projeta queda de 0,4% no terceiro trimestre ante os três meses anteriores.
De acordo com ele, o ritmo menos intenso de queda dará "a impressão de algo melhor". A redução na comparação com o mesmo período do ano passado, no entanto, será ainda maior, de 3,1% –no segundo trimestre, o número ficou em -2,6%.
Os analistas apontam que indicadores divulgados sobre os meses de julho e agosto são pouco animadores. São dados de emprego, inflação, confiança, produção e estoques entre outros.
Entres os dados que deram sinais negativos no início do segundo semestre, a confiança do consumidor recuou 1,7% na passagem de julho para agosto, atingindo 80,6 pontos. Foi o quinto recorde negativo apenas em 2015, segundo a FGV.
Além disso, citaram a queda nos investimentos registrada pelo IBGE –de 8,1% no segundo trimestre–, o aumento da taxa de juros e a redução da concessão do crédito como fatores que também contribuem para o mau desempenho no segundo semestre.