Vaivém das Commodities
Ganho com dólar alto está com os dias contados
MAURO ZAFALON - mauro.zafalon@uol.com.br
O produtor brasileiro de soja ainda não sentiu no bolso os efeitos da crise internacional de preços das commodities. A balança comercial, no entanto, já sente esse efeito.
Em julho do ano passado, a tonelada da oleaginosa era negociada a US$ 529 no porto de Paranaguá. Após contínua queda dos preços na Bolsa de Chicago, principal local de formação de preço da commodity, a tonelada recuou para US$ 395 em julho deste ano no mesmo porto.
Já no mercado interno, a saca, que era negociada a R$ 67 em Maringá (PR) em julho de 2014, aumentou para R$ 69 em igual mês deste ano, conforme dados da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).
A próxima safra, no entanto, pode trazer um cenário diferente para o produtor brasileiro, que paga mais pelos insumos –boa parte deles negociada em dólar.
No próximo ano, as benesses da valorização do dólar sobre os preços de vendas, em reais, deverão desaparecer. Ou, pelo menos, não ter a mesma intensidade do cenário atual.
O produtor norte-americano vive situação contrária à do brasileiro. O preço médio da soja recuou para US$ 9,96 por bushel (27,2quilos) em julho, 24% menos do que recebia em igual período de 2014.
O mesmo ocorre com o milho, cujo valor médio teve queda de 6% no período, recuando para US$ 3,80 por bushel (25,4 quilos).
Outra divergência entre os dois mercados são os custos. Enquanto o dólar vem salgando os preços dos produtos utilizados pelos produtores brasileiros nesta nova safra, a 2015/16, os norte-americanos pagam menos pelos insumos.
Os custos de produção recuaram 4% nos Estados Unidos nos últimos 12 meses terminados em julho.
Os norte-americanos têm alívio nos preços dos combustíveis, que estão 35% mais baratos para os produtores, o que não ocorre no Brasil.
Eles se beneficiam, ainda, da redução internacional dos preços de fertilizantes e de produtos químicos. Desta vez, o dólar funciona do lado deles.
A queda do adubo é de 6% para os norte-americanos, enquanto os produtos químicos caem 3% em 12 meses.
O principal setor a ser beneficiado é o de proteínas. Devido à queda não só desses itens, mas também dos preços dos grãos. Os custos do setor já caíram 5% em um ano.
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Complexo soja As exportações do setor deverão render US$ 25,5 bilhões neste ano, um valor menor do que os US$ 31,4 bilhões do ano passado, mas acima do que se previa inicialmente.
Grãos As receitas com a soja em grãos serão de US$ 19,1 bilhões no ano, segundo a dados divulgados nesta segunda-feira (31) pela Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).
Volume O maior volume a ser exportado –50,3 milhões de toneladas– e uma recuperação dos preços nos últimos meses permitiram um ajuste para cima dessas receitas.
Farelo O esmagamento de 40,1 milhões de toneladas de soja vai permitir ao país exportar 15,2 milhões de farelo de soja, segundo a Abiove. As receitas serão de US$ 5,5 bilhões com o produto, enquanto as com óleo de soja ficam em US$ 936 milhões.
Recuo O valor da arroba de boi gordo caiu para R$ 145 nesta segunda-feira (31) em São Paulo, segundo a Informa Economics FNP.
Suínos A arroba de suíno tomou rumo contrário e subiu 2% no dia. Foi a R$ 70,8 no mercado paulista, aponta pesquisa da Folha.
Safra As lavouras de milho dos EUA tinham 68% de condições boas e excelentes neste final de agosto. Em 2014, eram 74%. Já as condições da soja, neste mesmo critério, atingem 63%, ante 72% em 2014, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos EUA).
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DE OLHO NO PREÇO
Nova York
Açúcar
(cent. de US$)*10,69
Café
(cent. de US$)*120,55
Chicago
Soja
(US$ por bushel)8,97
Milho
(US$ por bushel)3,63
*por libra-peso