Com selo da S&P, estrangeiro quase triplicou investimento
Após status de bom pagador, em 2008, entrada no país foi em média de US$ 54 bi
Neste ano, os recursos externos em empresas recuaram 33% até julho; BC culpa queda da atividade econômica
Os investimentos estrangeiros no país quase triplicaram depois que o país obteve, em 2008, o selo de bom pagador concedido pelas agências internacionais de classificação de risco, desempenho que já começou a sofrer uma reversão.
No período 2002-2007, entraram no país US$ 19 bilhões ao ano, em média, em recursos destinados a investimentos no setor produtivo (o chamado investimento direto). De 2008 a 2014, esse fluxo anual foi de US$ 54 bilhões.
A parcela dos títulos públicos emitidos no mercado doméstico na mão de estrangeiros também cresceu a partir do grau de investimento: passou de 7,2% em 2008 para 18,6% no final de 2014.
O desempenho do investimento foi usado pelo próprio ministro Joaquim Levy (Fazenda) como argumento para reforçar a importância de o país adotar medidas para evitar o rebaixamento da nota de risco –que acabou ocorrendo na semana passada, quando a agência Standard & Poor's retirou do país o selo de bom pagador.
A S&P foi a primeira a conceder ao país o status de grau de investimento, em 2008.
A decisão sobre o rebaixamento só era esperada para o próximo ano, mas o Orçamento apresentado com deficit no fim do mês passado acelerou o processo.
Antes disso, no entanto, no esforço de convencer o Congresso a aprovar o pacote de ajuste do governo, Levy exibia aos parlamentares dados do fluxo de investimento antes e depois de o país ter recebido o aval das agências e alertava para o "custo altíssimo" que a perda da nota traria para governo, empresas e trabalhadores.
"Inúmeras companhias, inúmeros investidores ou de carteira ou diretos não podem investir ou não vão pegar projetos em países que não tenham grau de investimento", afirmou Levy à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, no final de março.
PROCESSOS EM REVISÃO
No período recente, os investimentos no país também foram favorecidos pelo grande volume de recursos disponíveis globalmente como resultado do boom do preço das commodities e das políticas adotadas pelos EUA para estimular a economia. Ambos os processos também estão agora em reversão.
Neste ano, em um reflexo da deterioração da economia doméstica, os investimentos estrangeiros em empresas no Brasil já sofreram uma queda de 33% até julho, segundo nova metodologia adotada pelo Banco Central a partir deste ano para medir esses fluxos.
O BC atribuiu o movimento à queda da atividade econômica e a entraves, como o risco de falta de energia e os desdobramentos da Operação Lava Jato.
A S&P prevê que pelo menos até 2017 os investimentos diretos não sejam suficientes para cobrir o deficit externo do Brasil, o que deixará o país mais dependente de recursos de empréstimos e de outras aplicações consideradas mais voláteis, como ações e títulos públicos.