Varejo encolhe pelo sexto mês seguido
Vendas caem 1% em julho, segundo IBGE; alimentos, móveis e eletrodomésticos pesam em resultado negativo
Economistas preveem cenário difícil para o comércio até o fim do ano; dólar caro deve prejudicar o Natal
Com o mercado de trabalho e a confiança das famílias em baixa, as vendas do varejo recuaram 1% em julho em relação ao mês anterior. Essa foi a sexta queda consecutiva, puxada sobretudo por alimentos, móveis e eletrodomésticos.
Trata-se também do pior resultado para meses de julho desde o início da série histórica do IBGE, em 2000, segundo informou o instituto nesta quarta-feira (16).
Nem os artigos mais básicos escaparam da queda do consumo, como alimentícios, os últimos a serem cortados no orçamento familiar. O setor recuou 1% na passagem de junho para julho.
Os consumidores cortam gastos nos supermercados num ambiente de menor renda das famílias –com a piora do mercado de trabalho– e de alta de 10% dos preços dos alimentos em um ano.
Mais dependente de crédito, que está restrito, o segmento de móveis e eletrodomésticos ajudou a deteriorar o cenário –com retração de 1,7% em julho ante junho.
Com o desempenho tão fraco, o varejo fechou 29.847 postos de trabalho formais em julho, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho.
NATAL TROPICAL
Paulo Neves, economista da consultoria LCA, disse que os números reforçam a expectativa de um Natal fraco. Ele espera uma queda de 3% das vendas no ano, o que significaria o pior resultado desde 2003 (-3,7%).
"As vendas vão continuar ruins no resto do ano, mas talvez com quedas menos intensas. Um risco alto continua sendo o cenário político, que pesa na confiança das famílias", diz Neves.
Segundo Fabio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), as vendas de fim de ano devem ser prejudicadas pela desvalorização cambial, que encare produtos importados.
"Vamos ter uma mesa de Natal tropical, já que pescados, frutas e bebidas importados estão mais caros. Mesmo os pães encarecem com o câmbio, já que o trigo tem cotação internacional", diz Bentes.
Em relação a julho de 2014, o varejo encolheu 3,5%. No ano, o recuo é de 2,4%, e, em 12 meses, de 1%.
O cenário reforça a expectativa de contração do consumo das famílias no PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, segundo o Bradesco em relatório. "O dado sugere retração de 1,1% do PIB deste trimestre [ante o segundo trimestre]".