Moedas emergentes ganham força, à véspera da decisão do BC dos EUA
Apenas 30% dos investidores acreditam em alta dos juros nesta quinta, ante 50% um mês atrás
Analistas dizem que dólar deve continuar a subir ante o real, especialmente após perda do selo da S&P
Às vésperas da decisão do Fed (banco central dos EUA) sobre se vai mexer nos juros pela primeira vez em sete anos, o dólar perdeu força na maior parte das economias emergentes, inclusive no Brasil, sob a expectativa de que não será desta vez que a política monetária americana será alterada.
A moeda americana se desvalorizou nesta quarta-feira (16) em 21 de 24 moedas emergentes acompanhadas pela agência internacional Bloomberg. A maior queda foi na Rússia, onde o dólar recuou 2,3% ante o rublo.
No Brasil, a desvalorização foi de 1,03% –a sétima maior entre os mercados emergentes–, com o dólar à vista cotado a R$ 3,825. Já o dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, cedeu 0,69%, para R$ 3,835.
Analistas dizem, porém, que a tendência do dólar é continuar a subir ante o real, especialmente depois da perda do grau de investimento concedido pela agência Standard & Poor's.
Um cálculo baseado nas taxas futuras dos juros americanos mostra que apenas 30% dos investidores acreditam que o BC americano vai anunciar a alta da taxa básica após o encontro desta quinta-feira (17). Em agosto, antes dos sinais de piora da economia chinesa, metade dos investidores acreditava no aperto do Fed.
A desaceleração na China e seu impacto no crescimento dos EUA serão um dos fatores considerados por Janet Yellen (presidente do Fed) e seus colegas na decisão de mexer nos juros. As taxas estão praticamente zeradas desde o fim de 2008, na tentativa de tirar a economia da crise que teve origem no país e logo se tornou global.
"As apostas de manutenção do juro refletem sinais claros de desaquecimento da economia da China, a queda recente nos preços das commodities e a valorização acumulada do dólar", disse Raphael Figueredo analista da Clear Corretora.
Além disso, as autoridades americanas vão analisar o desempenho do mercado de trabalho do país e a inflação.
A última vez que o Fed elevou os juros foi em 2006, no primeiro ano da gestão de Ben Bernanke.
A derrubada de juros pelos EUA e outras políticas de afrouxamento monetário que injetaram centenas de bilhões de dólares na maior economia global foram duramente criticadas nos últimos anos por autoridades de países emergentes (como o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega) pela valorização provocada na moeda desses países, em um período chamado de "guerra cambial".
Nesse período, os investidores internacionais buscaram ganhos nesses países (com juros mais altos) e deixaram de lado o mercado americano e seu retorno baixíssimo. Com isso, as moedas emergentes ganharam força.
CENÁRIO
Caso o Fed não eleve os juros na reunião desta quinta, a expectativa de analistas é que o BC só tome essa decisão no encontro de dezembro, e não no de outubro.
O motivo é que na reunião do mês que vem não está programada uma entrevista para a imprensa, em que Yellen poderia explicar a sua decisão e os próximos passos.