Entrevista - Binu Pillai
Empresas chinesas vão se adaptar à alta do dólar
Empresas chinesas pretendem se manter competitivas no Brasil mesmo com mudanças cambiais, diz diretor de feiras
Depois de ganhar o mundo vendendo produtos industrializados, o próximo objetivo da China é exportar projetos de alta tecnologia.
A afirmação é do indiano Binu Pillai, diretor de operações da Meorient (empresa chinesa que organiza feiras internacionais de negócios), responsável pelas feiras China Machinex e China Home Life, que trouxeram mil empresas da segunda maior economia mundial Brasil na semana passada.
Os eventos também acontecem anualmente em outros oito países emergentes. Eles fazem parte do "One Belt, One Road", programa de de incentivo à internacionalização das empresas do país que te início em 2013 e que possui orçamento de US$ 40 bilhões.
Leia abaixo trechos de entrevista que Pillai concedeu à Folha.
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Folha - Que tipo de companhias têm interesse em vir para o Brasil?
Binu Pillai - A China está se movendo muito rapidamente. Antes, ela era uma exportadora de produtos. Agora está se tornando uma exportadora de projetos.
Com isso, quero dizer que a China pode trazer tecnologia, projetos, equipamentos e, em alguns casos, mão de obra qualificada. Estamos falando de uma solução completa.
A China está mudando muito rapidamente. Para perceber isso, você pode olhar para seus projetos de infraestrutura, projetos de energia, de usinas nucleares.
Como aconteceu a mudança?
Há 20 anos a China começou a vender produtos industriais para o mundo todo e fez isso por muito tempo. Mas agora tudo é industrializado na China, o país atingiu esse objetivo. Então qual o próximo passo? O país precisa diversificar sua economia.
Agora o país alcançou a tecnologia. A China tem poder de investir, com US$ 3 trilhões investidos nos EUA.
São muitos projetos de tecnologia em andamento: portos, estradas, trens de alta velocidade. Olhe para a Argentina, para o Peru, para a Polônia. Muitos projetos de infraestrutura são executados pela China. Temos companhias do setor elétrico que já estão fornecendo para empresas brasileiras. A qualidade é aceita agora. Isso é uma grande mudança.
A China está se destacando em quatro áreas: ferrovias de alta velocidade, energia renovável, infraestrutura para projetos e energia nuclear.
Que oportunidades a China vê no Brasil?
Se olhar para a economia do Brasil, para o setor têxtil, verá que não há subsídio do governo, nem investimento substancial no mercado.
Há dez anos, vamos dizer que havia algo em torno de 10 mil empresas produzindo no setor. Agora seriam algo em torno de mil.
Aí a China entra. E não estamos falando apenas de exportação de produtos, China está dizendo, "podemos colocar uma fábrica aqui".
Também estamos conversando com o Sebrae. Eles querem encontrar oportunidades de parcerias para pequenas e médias empresas.
A China pode trazer produtos e investimentos aos pequenos negócios. Ela pode fornecer essas coisas em troca de uma joint venture, por exemplo.
Por que, mesmo com essa mudança de perfil de exportações, elas estão caindo neste ano?
Há muitas razões para as exportações caírem. Nos últimos 20 anos, a China vem produzindo para o mundo. Quando o mundo está com problemas, as outras economias importam menos da China.
É uma combinação de fatos, não apenas um problema doméstico chinês.
E é exatamente por isso que a China busca diversificar, não depender apenas de vender produtos.
Boa parte dos Brics, exceto Brasil, vai ter um crescimento forte neste ano. A Índia terá algo em torno de 7%, 8%. Então a China vai tentar aumentar agressivamente as exportações para a Índia.
No futuro, se alguns mercados forem mal, não haverá problema. A economia da Rússia pode estar encolhendo, mas a do Cazaquistão pode estar crescendo.
A crise e a alta do dólar no Brasil atrapalham?
Sim e não. É um efeito combinado. Para as empresas chinesas que importam do Brasil, o dólar caro é competitivo.
Mas a beleza da economia chinesa, e o que tenho ouvido dos empresários, é que muitos deles querem fazer ajustes para se manter competitivos nesse cenário.
É preciso entender que o consumidor vai comprar de algum lugar. Ele não vai ficar sentado e dizer "o dólar subiu e não vou mais importar, seja da China, seja da Coreia, seja de outro lugar". E ele vai pagar dólares extras para qualquer um deles.