Após descoberta de fraude, presidente da Volks renuncia
Presidente da montadora alemã afirma que não estava ciente do problema, mas que aceita a responsabilidade
Depois de dois dias seguidos de queda de cerca de 20% nas ações, papéis da companhia tiveram alta de 6%
O presidente mundial da Volkswagen, Martin Winterkorn, renunciou nesta quarta-feira (23) ao cargo.
Na terça, a empresa admitiu ter instalado em até 11 milhões de veículos a diesel pelo mundo um sistema que fraudava testes de detecção de poluentes em várias marcas –um aumento expressivo ante as 482 mil unidades apontadas pelo governo norte-americano inicialmente na semana passada.
Em declaração publicada no site da montadora, Winterkorn afirma que não estava ciente das irregularidades, mas aceita a responsabilidade pelo problema.
"A companhia precisa de um recomeço –também em termos de pessoal. Estou abrindo caminho para esse recomeço com a minha renúncia", escreveu.
As ações da empresa, que fecharam com quedas ao redor de 20% na segunda e na terça, tiveram alta de 5,77%.
No Brasil, o único modelo com motorização semelhante à envolvida na fraude global é a picape média Amarok, que é produzida na Argentina e tem motor 2.0 turbodiesel.
Esse modelo não é vendido no mercado norte-americano, e a empresa alemã ainda não divulgou uma lista oficial de produtos que estejam envolvidos no problema em outros países.
"Estou chocado com os eventos dos últimos dias. Acima de tudo, estou surpreso que uma conduta errada de tal escala tenha sido possível no Grupo Volkswagen", afirmou Winterkorn no comunicado.
Segundo o executivo, o "processo de esclarecimento e transparência" precisa continuar. "Essa é a única forma de retomar a confiança", afirmou Winterkorn.
Entre os principais candidatos a substituto de Winterkorn estão o chefe da Porsche, Matthias Mueller, o chefe da Audi, Rupert Stadler, e o diretor da marca VW, Herbert Diess, segundo três fontes próximas da questão.
Mueller é visto como favorito entre os três, devido a seus anos de experiência no grupo, segundo especialistas de mercado.
INVESTIGAÇÕES
Promotores alemães disseram nesta quarta-feira que estão realizando uma investigação preliminar sobre a manipulação de resultados de testes de emissão de poluentes em veículos da marca.
Já a ministra de Energia da França, Ségolène Royal, afirmou que o país pode ser "extremamente severo" se sua investigação encontrar qualquer delito.
O governo da Coreia do Sul afirmou que também fará investigações sobre os níveis de emissão dos carros da Volkswagen.
O escândalo eclodiu na sexta-feira, quando a Agência de Proteção Ambiental (EPA) norte-americana, acusou a empresa de usar um software que faz com que os carros com motorização TDI (turbodiesel), como o Golf, o Passat o Jetta, pareçam, durante os testes de emissão de poluentes, menos prejudiciais ao ambiente do que de fato são.
Isso levou o governo Barack Obama a obrigar a Volkswagen a realizar um recall de quase meio milhão de carros.
Antes da revelação, previa-se que o contrato de Winterkorn como presidente-executivo fosse renovado até 2018, em uma reunião no final desta semana.
A montadora alemã anunciou que reservou € 6,5 bilhões no terceiro trimestre para enfrentar as potenciais consequências da denúncia.
Segundo o governo americano, a empresa pode, porém, enfrentar multas de até US$ 18 bilhões –sem contar punições em outros países. Escritórios de advocacia já entraram com processos coletivos contra a companhia.