Franca já aproveita dólar caro para gerar empregos
Câmbio favorável à exportação e produção de itens mais baratos favorecem indústria calçadista, que vê, no entanto, consumo interno fraco
Em plena crise econômica e com o desemprego em alta em vários setores do país, a cidade de Franca (a 400 km de São Paulo) vive um paradoxo: a indústria calçadista criou mais postos de trabalho do que esperava ter em 2015.
A previsão inicial era que as fábricas mantivessem os 20 mil funcionários empregados no final de 2014, mas houve aumento de 25%.
Valdecir dos Santos, 34, é um dos beneficiados do polo industrial de Franca: três horas depois de chegar a uma fábrica em busca de trabalho, já estava moldando sapatos.
Segundo o Sindifranca (sindicato que representa a indústria calçadista local), 5.000 trabalhadores da cidade ganharam um emprego nos primeiros sete meses deste ano.
O fenômeno se dá, segundo os calçadistas, pelo câmbio favorável a empresas exportadoras e pela produção de modelos mais baratos.
E a expectativa, conforme empresários, é que mais postos sejam criados nos próximos meses, principalmente em virtude da alta acentuada da moeda norte-americana.
Apesar do emprego em alta, a indústria calçadista manteve o nível de faturamento das exportações praticamente estável –retração de 0,88% na comparação com igual período de 2014.
Isso porque o setor exportou 7,73% mais sapatos do que o ano anterior, mas a valores menores –US$ 25,07 neste ano ante US$ 27,24.
Para o empresário Téti Brigagão, diretor da Sândalo, as perspectivas para exportações são positivas principalmente para a América do Sul e o Oriente Médio.
A desvantagem é o mercado interno, segundo ele. "Aqui, o mercado está estagnado, com o lojista comprando só a 'commodity da commodity'", disse o executivo da empresa que produz 400 pares por dia também para as marcas Carmen Steffens e Clave de Fá.
BASE NA CHINA
Com o mercado interno menor, a expectativa é que o setor produza, em Franca, neste ano, cerca de 34 milhões de pares de calçados, 3 milhões a menos que em 2014.
Para tentar reverter o quadro, o Sindifranca fez um acordo com a Câmara de Comércio Brasil-China. O plano é ampliar a participação do país oriental –hoje o 39º comprador, com US$ 102 mil, ou pouco mais de 4.000 pares– nos negócios das empresas de Franca.
Um grupo de 20 fábricas da cidade montará uma base comercial em Xangai e produzir estudos para conhecer a fundo o mercado.
"A China tem muitos milionários que compram sapatos de mais qualidade, como os produzidos aqui", disse José Carlos Couto, presidente do Sindifranca.