Produto usado ganha valor em trocas
De smartphones a pneus, varejo dá descontos para quem deixa usado na loja em busca de produtos novos
Principal objetivo é destravar vendas no período de crise e cumprir metas de sustentabilidade
A crise econômica do país tem levado a uma maior percepção do valor dos objetos de segunda mão pelos consumidores e pelas empresas.
No mercado de smartphones, em constante renovação, as operadoras Vivo e Claro, a livraria Saraiva e a revendedora da Apple iPlace por exemplo, possuem programas de trocas de modelos antigos por benefícios.
Felipe Figueiredo, diretor de planejamento comercial da Vivo, diz que existe relação direta entre o programa de troca com desconto oferecido pela empresa e a crise.
"Os clientes estão pensando duas, três vezes mais antes de trocar o aparelho. Quando você dá uma facilidade desse tipo, mantém ele mais engajado com a sua marca", diz.
Os celulares recolhidos pela empresa são direcionados à uma distribuidora parceira.
Na Claro, a troca dos aparelhos está vinculada a adesão ao plano Claro Up, em que os novos celulares são parcelados em 24 vezes e, no 12º mês de pagamento, o cliente pode devolvê-lo para quitar a dívida e pegar um modelo mais novo, parcelado sob as mesmas condições.
Segundo a empresa, a crise se transformou em oportunidade, pois o desejo pelo aparelho topo de linha continua existindo.
Os celulares recolhidos são vendidos a uma empresa, que também oferece seguro para os clientes do plano.
O objetivo da Claro não é ganhar na venda dos celulares usados, apenas fidelizar clientes. Segundo ele, a maior parte dos aparelhos topo de linha vendidos pela operadora já são fechados a partir do plano que permite a troca.
Na iPlace, a estratégia de troca de seminovos existe desde agosto de 2014 e surgiu como alternativa ao aumento do preço de iPhones e iPads com a chegada de novos modelos e a alta do dólar, diz Matheus Mundstock, diretor de negócios da empresa.
"Queremos fazer com que o cliente não precise esperar muito tempo para trocar seu celular, mas tenha sempre um modelo atualizado."
Mundstock afirma que programa decolou no final do ano passado, quando a crise econômica começou a ser percebida pela população.
CUSTOS
Enquanto as empresas que trocam celulares conseguem vender os usados e, com isso, recuperar o que é gasto na operação, em outros segmentos, as ações de troca significam custos para as empresas.
No caso da fabricante de pneus Bridgestone, os clientes podem ter descontos entre R$ 25 e R$ 100 por pneu usado entregue nas lojas na hora de fazer a troca.
Os pneus usados são enviados para reciclagem, sem nenhum ganho financeiro para a empresa, diz Alexandre Lopes, diretor de vendas da Bridgestone.
Segundo ele, antes da promoção, 10% dos clientes levavam os pneus usados após a troca. Com isso, a empresa era obrigada a comprar no mercado itens que seriam descartados para cumprir meta de reciclagem.
Agora, praticamente todos os consumidores deixam os usados na loja.
Desde o início da troca com desconto, as vendas cresceram 20%. Porém, como a promoção tem custo para a empresa, ela só vai durar até o final de setembro.
Na Adidas, qualquer tênis ou roupa esportiva usada dá 15% de desconto na compra de um item novo desde junho deste ano.
Estão sendo recolhidos cerca de 35 itens por mês, diz Gudrun Veronika Messias, gerente de Sustentabilidade da empresa.
Os resultados ainda modestos são explicados pela necessidade de solidificar uma cultura de reaproveitamento no Brasil. Ao contrário da maioria dos outros programas de trocas, ela diz que a empresa não tem como meta principal acelerar as vendas no curto prazo, mas, sim, cumprir os objetivos de sustentabilidade da companhia.