Empresas 'dançam' para se ajustar a câmbio
Empreendedores desconhecidos entre si buscam soluções à crise em tradicional salão de bailes no centro de SP
Entidades promovem encontros entre fornecedores e indústria afetados por dólar ao redor de R$ 4
Em até 20 rodadas durante uma única tarde, empresas e fornecedores desconhecidos entre si buscam alternativas à crise no salão de bailes do Clube Homs, na av. Paulista, em São Paulo.
Cada rodada dura dez minutos. Nesse intervalo, os dois lados procuram remédio para quedas no faturamento de até 50% em um ano. E, principalmente, para o dólar ao redor de R$ 4. A substituição de insumos importados por nacionais é uma das prioridades. Exportar, outra.
A premência dessas empresas se reflete no resultado do comércio exterior brasileiro e, de forma mais aguda, no desemprego. No acumulado do ano até setembro, as importações encolheram 23%, e as exportações, 16,8%.
Na Cambuci, empresa que vende peças para veículos, a compra de importados caiu em 70%. Em 12 meses, o faturamento recuou 40%. E o total de funcionários baixou de 230 para 155. A situação é parecida para muitas empresas do encontro da semana passada, promovido pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (veja quadro).
Na outra ponta, das exportações, o câmbio começa a compensar. Caso da MRS, fabricante de autopeças cujo faturamento encolheu 25% em 12 meses. No mercado interno, a queda foi de 50% para a indústria automobilística e de 35% para a de reposição.
"Mas as exportações saltaram 300% em reais", diz o presidente, Fausto Cestari.
Na prática, as empresas ainda se adaptam ao dólar a R$ 4 depois de um longo período de real valorizado –foi nos últimos 12 meses que a moeda subiu mais de 70%.
Marcos Andrade, da Expor, maior fabricante de manequins da América Latina, diz que o esforço hoje é ampliar de 25% para 35% o peso das exportações nas vendas.
Com capacidade para produzir quase 6.000 peças por mês, a empresa vem fabricando 3.500.
O problema é que muitas empresas ficaram pouco competitivas no exterior durante os anos de real valorizado. O setor de máquinas e equipamentos, por exemplo, é proporcionalmente um dos que mais exportam, com cerca de 30% vendidos fora.
"Mas o ciclo de fabricação é de seis meses a um ano. A retomada demora, e grandes oscilações no dólar podem ser fatais", diz Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq.
Já para a Esteves, fabricante de metais sanitários (que não exporta), o custo em reais de latão e inox vem subindo atrás do dólar. "Não temos alternativa", diz seu presidente, Marcio Esteves.
Para alguns exportadores, o dólar tem um efeito neutralizante, ao encarecer insumos importados. "Estamos no zero a zero", diz o presidente da da Metalúrgica Grampofix, Ricardo Martins. Mas seu faturamento já caiu 40%.