Varejo deve priorizar inovação e atendimento, diz Luiza Trajano
Aliada de Dilma, empresária defende ajuste, mas sem impostos
Mesmo com a retração da economia afetando o varejo, Luiza Helena Trajano, presidente do grupo Magazine Luiza –quinto maior varejista do Brasil–, se diz otimista.
Com crédito escasso, juros altos e inflação assustando, o setor varejista freou as vendas de eletrodomésticos da linha branca, como geladeiras e lavadoras, após uma década crescendo muito além do PIB brasileiro e amarga números preocupantes. A queda foi de mais de 11% no primeiro semestre, segundo a associação de fabricantes.
Com 777 lojas, nove centros de distribuição em 16 Estados e receita de R$ 12 bilhões em 2014, Luiza tem apostado no patrocínio do futebol brasileiro e em promoções, que vão desde a facilidade de financiamento de produtos até sorteios de condomínios.
Aliada da presidente Dilma Rousseff, ela evita falar em política, mas defende o ajuste fiscal com ressalvas.
-
Folha - A sra. faz parte do grupo Mulheres do Brasil e até ensaiou uma vida política ao ser cotada para o Ministério da Micro e Pequena Empresa. Como concilia com a empresa?
Luiza Trajano - Tento descentralizar, delegando responsabilidades. O CEO cuida mais a fundo dos negócios, o que me dá mais tempo de participar do grupo de mulheres e dar palestras.
O Brasil ocupa o lugar 121º lugar no ranking de participação das mulheres na política. No mercado de trabalho, elas recebem 70% do que os homens. Por que isso acontece? E o que as próprias mulheres deveriam fazer para mudar?
A cultura é machista. Mas isso está mudando, não na velocidade em que a gente quer. As mulheres estão mais informadas e são as principais tomadoras de decisão de compra nos lares.
Os grupos em que atuo lutam para que elas tenham cotas em conselhos de empresas, um processo transitório para acertar uma desigualdade histórica. Apenas 8 em cada 100 profissionais de alto escalão nas empresas do Brasil são do sexo feminino.
A sra. foi indicada pela Presidência como representante da União no Conselho Público Olímpico para os Jogos de 2016. Como é a sua relação com a presidente Dilma?
Esse é um momento complicado para a política brasileira e não quero falar. Sobre o comitê, a Olimpíada vai gerar emprego, movimentar o comércio e mobilizar o Brasil. É uma maneira de ser político sem ser partidário.
Alta de juros e escassez de crédito têm minado o varejo. Como avalia estas ações do governo para conter a crise?
Estou torcendo para funcionarem. Não gostaria que houvesse aumento de imposto, mas temos que acertar o ajuste fiscal sem travar o consumo. Como fazer, não sei.
Coisas boas foram feitas principalmente para o pequeno empreendedor, como o aumento de empresas no Simples Nacional, o que melhora a arrecadação do país, além de dar fôlego aos pequenos negócios.
Muitos consumidores deixaram de comprar bens duráveis. O varejo sentiu a queda?
O consumidor deixou de comprar de modo geral, inclusive no supermercado, por medo da recessão e de perder emprego. O índice de confiança do IDV é o mais baixo dos últimos 15 anos. Isso freia a economia de modo geral.
Mas acredito que seja passageiro e que o ritmo de crescimento vai voltar. Só 54% dos brasileiros têm máquina de lavar. No Nordeste, são 27%. Imagine o quanto de geladeira, televisão e eletroportátil eu posso vender?
A inadimplência tem aumentado. O que o Magazine Luiza tem feito em relação a isso?
Tentamos flexibilizar as condições para não pesar para o cliente. Estou conversando todos os dias com os meus fornecedores, priorizando produtos que vendem mais e dão melhores condições.
A sra. lida com vários setores da economia e já propôs parcerias entre a indústria e o varejo para vender mais. Como seus fornecedores foram atingidos pela crise?
Também estão sentindo. Digo sempre que temos que investir em atendimento e inovação.
Leia a íntegra
folha.com/no1690967