Foco
Após 62 anos, 'Playboy' americana não terá mais imagem de mulheres nuas
No Brasil, revista diz que ainda não foi comunicada sobre mudança, que se inicia nos EUA em março
No mês passado, Cory Jones, um dos principais editores da "Playboy", foi visitar o fundador da revista, Hugh Hefner, 89, em Los Angeles, e apresentou uma sugestão radical: a de que a publicação parasse de publicar imagens de mulheres nuas.
Hefner que ainda consta do expediente como editor-chefe, concordou. Como parte de uma reformulação que chegará às bancas nos EUA em março, a edição de "Playboy" continuará a mostrar mulheres em poses provocantes. Mas não estarão mais nuas.
Executivos da revista dizem que ela foi deixada para trás pelas mudanças que ajudou a liderar na vida dos americanos, como transformar o sexo em algo menos furtivo.
"Aquela batalha foi travada e vencida", diz Scott Flanders, presidente-executivo da companhia. "Agora, as pessoas estão a um clique de qualquer ato sexual concebível, e de graça. Ou seja, a coisa se tornou obsoleta."
Para uma geração de homens dos EUA, ler "Playboy" era um rito cultural, um prazer ilícito consumado à luz de lanternas. Agora, todo adolescente tem um celular conectado à internet.
Revistas pornográficas, mesmo as famosas como "Playboy", perderam valor comercial e relevância cultural.
A circulação de "Playboy" caiu de 5,6 milhões de exemplares em 1975 para cerca de 800 mil atualmente.
Muitas das revistas que foram inspiradas por ela desapareceram. Algumas que sobreviveram têm vendas tão pequenas que são encontradas só em lojas especializadas.
A "Penthouse", talvez a sua mais famosa rival, respondeu à ameaça da pornografia digital publicando material mais e mais explícito. E nunca conseguiu se recuperar.
Esforços anteriores de reformulação da "Playboy", o mais recente há três anos, não pegaram.
A mais recente reformulação, 62 anos depois do lançamento, é a mais pragmática. A revista já havia tornado parte de seu conteúdo seguro para leitura no trabalho, disse Flanders, a fim de ser admitida em Facebook, Instagram e Twitter, fontes vitais de tráfego na internet.
Em agosto de 2014, o site da revista deixou de publicar fotos de nudez. Como resultado, executivos da revista afirmam que a idade média dos visitantes caiu de 47 anos para pouco mais de 30, e seu tráfego passou de 4 milhões para quase 16 milhões de visitantes únicos por mês.
A revista também promete adotar estilo mais enxuto e moderno. A colunista sobre sexo, diz Jones, "será uma mulher com visão positiva sobre o sexo", escrevendo entusiasticamente sobre o tema.
E será mantida a tradição de jornalismo investigativo, entrevistas longas e publicação de literatura.
NO BRASIL
O diretor de Redação da "Playboy" brasileira, Sérgio Xavier, afirma não saber ainda como vai ser o processo nos EUA e que não houve comunicado aos parceiros.
"A 'Playboy' tem a tradição de respeitar muito os mercados locais, deixar que cada país decida o que é melhor e como fazer", diz.