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Para subsidiar pesquisas, laboratório chinês vende miniporco 'sob medida'
Inicialmente criados para testes de remédios, animais custam em torno de R$ 5.800; no futuro, dono poderá definir cor do pelo
A reputação técnica do BGI, antes conhecido como Instituto de Genômica de Pequim, é invejável.
Seus feitos incluem o primeiro sequenciamento genético do arroz e do panda gigante, colaboração na descoberta dos segredos dos genes dos grãos de sorgo e soja, e assistência nas investigações para desvendar a estrutura do vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars).
Agora, a instituição chinesa desenvolveu uma nova linha de atuação: fornecedora de animais de estimação.
O instituto, que cria porcos em miniatura para teste de remédio, vem editando seus genes a fim de manipular as dimensões e outros traços dos animais. Em uma recente conferência de cúpula mundial sobre biotecnologia, o BGI anunciou que começaria a vender animais produzidos sob encomenda.
Os miniporcos, que aparentemente roubaram a cena no encontro, custarão 10 mil yuans (R$ 5.800). No futuro, os compradores poderão definir certas características, como a cor dos pelos.
O dinheiro servirá como uma fonte de receita para complementar os volumosos recursos que o BGI recebe do Banco de Desenvolvimento da China.
REMOÇÃO DE VÍRUS
Apenas três anos depois de a tecnologia de edição de genes ganhar reconhecimento, os seres humanos estão transformando criaturas emendadas em animais de estimação ou fornecedores de peças de reposição.
A história dos miniporcos surge com outro grande avanço porcino. Biólogos da Universidade Harvard conseguiram extirpar 62 retrovírus das células renais de um porco. Isso é requisito se o objetivo é explorar órgãos de porco para transplantes humanos –a remoção dos vírus reduz o risco de rejeição.
Por sua vez, os cientistas da China têm motivos para a criação de uma linha de pequenos porcos.
Os animais são um equivalente fisiológico mais próximo ao ser humano –do que ratos ou camundongos– para o teste de medicamentos. E, nesse caso, o tamanho importa: criaturas de grande porte exigem doses altas, e os medicamentos experimentais tendem a ser caros.
Para reduzir os objetos de suas experiências, os pesquisadores escolheram uma variedade de porco pequena, a raça bama, e desabilitaram um ou dois genes receptores de hormônios de crescimento. Isso criou animais que chegam a 15 kg –ante os 100 kg de uma variedade adulta regular e um terço dos bama.
A tecnologia avança, e não só nos porcos. Ela está sendo usada no combate a doenças hereditárias e ao câncer, em ratos de laboratório, e também para criar safras agrícolas mais resistentes e biocombustíveis. A precisão está crescendo.