Sindicato americano denuncia falhas no cuidado de paciente
Enfermeiros relatam falta de equipamentos para tratar de liberiano diagnosticado com ebola em Dallas, Texas
Thomas E. Duncan, que morreu no dia 8, teria ficado horas em área aberta de pronto-socorro de hospital
O liberiano Thomas Eric Duncan, primeira pessoa diagnosticada com ebola nos EUA, foi deixado por horas em uma área aberta de um pronto-socorro, e os enfermeiros que o trataram trabalharam por dias sem o equipamento de proteção adequado, sendo expostos a mudanças constantes de protocolo, segundo o maior sindicato de enfermagem dos EUA.
Enfermeiros tiveram de usar fita adesiva cirúrgica para selar as aberturas de seus trajes de tecido fino e se preocupavam com suas cabeças e e pescoços expostos ao tratar do paciente, que tinha forte diarreia e vomitava em jato, disse Deborah Burger, do sindicato Nurses United.
Desde domingo (12), surgiram dois casos de enfermeiras infectadas após cuidar de Duncan no Hospital Presbiteriano de Saúde do Texas, em Dallas, onde o liberiano morreu em 8 de outubro.
RoseAnn DeMoro, diretora-executiva do Nurses United, disse que os relatos sobre as falhas vieram de "diversos" enfermeiros do hospital. Ela, porém, rejeitou especificar o número.
Entre os problemas apontados pelos enfermeiros está a possibilidade de até sete outros pacientes terem sido expostos ao ebola pelo fato de Duncan ter ficado horas fora de uma área isolada.
Segundo os relatos, os enfermeiros de Duncan também cuidavam de outros pacientes e, diante de mudanças constantes nas diretrizes, foram autorizados tacitamente a seguir as que preferissem.
Além disso, o seminário de preparação para o ebola foi optativo, e não obrigatório.
OUTRO LADO
O porta-voz Wendell Watson reagiu afirmando que o hospital leva muito a sério suas "obrigações de fiscalização". "Há várias medidas para oferecer um ambiente seguro de trabalho, entre as quais treinamento anual compulsório e uma linha de emergência que funciona 24 horas, bem como outros mecanismos que permitem que irregularidades sejam apontadas anonimamente."
Watson disse que o hospital "revisaria e responderia a quaisquer preocupações expressas pelos enfermeiros e por todos os funcionários".
Burger rebateu as declarações: "Não houve preparativos antecipados sobre o que fazer com o paciente, não havia protocolo nem sistema."
Segundo ela, o hospital garantiu que o equipamento apropriado para lidar com o vírus havia sido encomendado, mas demorou a chegar.
De acordo com o sindicato, os enfermeiros tiveram de "interagir com Duncan usando o equipamento de proteção disponível", ainda que o paciente "produzisse muitos fluidos contagiosos".
A família de Duncan forneceu à Associated Press uma ficha médica de Duncan. Segundo o documento, cerca de 12 horas após chegar de ambulância ao pronto-socorro, o liberiano tinha febre e apresentava "diarreia, dores abdominais, náusea e vômito".
Quando surgiu a suspeita não confirmada de ebola, um médico escreveu que "o uso de coberturas descartáveis para os sapatos também deveria ser considerado". Àquela altura, de acordo com todos os protocolos, o uso dessas coberturas deveria ser obrigatório, para impedir que fluidos contagiosos se espalhassem no hospital.
Registros de uma ficha hospitalar sugerem que a proteção melhorou dias depois com o uso de um traje Tyvek, luvas triplas, botas triplas e máscara respiratória.
Segundo DeMoro e Burger, os enfermeiros alegaram ter sido instruídos pelo hospital a não falar com a mídia, sob pena de demissão. Elas não especificaram se os enfermeiros que fizeram as alegações faziam parte da equipe que atendeu Duncan.