Nigéria diz ter acertado trégua com radicais
Boko Haram teria concordado em libertar as mais de 200 garotas que mantém como reféns; grupo não se manifesta
Acordo daria fim a cinco anos de insurgência no nordeste do país; extremistas são contra a educação ocidental
O governo nigeriano anunciou nesta sexta (17) que entrou em um acordo de cessar-fogo com a facção radical Boko Haram, que teria concordado em libertar mais de 200 garotas sequestradas há seis meses.
Não houve confirmação da trégua por parte da milícia islâmica, que desde 2009 comanda uma insurgência armada no nordeste da Nigéria.
"Eu quero informar que um acordo de cessar-fogo foi concluído", disse o chefe militar nigeriano, Alex Badeh. O trato teria sido alcançado após três dias de negociações com os rebeldes.
De acordo com o porta-voz do governo, Mike Omeri, os rebeldes deram garantias de que devolveriam as colegiais sequestradas e que todos os reféns em poder da facção estão vivos e em bom estado.
As 276 adolescentes foram raptadas em abril deste ano de um colégio na cidade de Chibok, no Estado de Borno, e foram mantidas escravas desde então. Destas, 57 conseguiram escapar.
O caso causou comoção internacional e motivou a campanha "Bring back our girls" (devolvam nossas garotas), com participação de celebridades como a primeira-dama americana, Michelle Obama, e a vencedora do Nobel da Paz deste ano, a paquistanesa Malala Yousafzai.
O Departamento de Estado dos EUA disse que não podia dar uma confirmação independente do acordo. Os EUA e outros países ocidentais ajudaram o Exército nigeriano com treinamento e apoio e inteligência.
COMBATE
O acordo seria um trunfo para o presidente Goodluck Jonathan, que tentará a reeleição no próximo ano e tem sido pressionado pela incapacidade de lidar com a violência no país.
Seu governo tem tentado conter o Boko Haram desde 2009, quando a milícia iniciou seus ataques com o objetivo de criar um califado --Estado regido pelas leis islâmicas--, o mesmo plano da milícia Estado Islâmico (EI), no Iraque e na Síria.
Só neste ano, o grupo foi responsável pela morte de mais de 2.000 civis, segundo o Human Rights Watch.
Boko Haram significa "educação ocidental é proibida", no idioma hausa. Em sua fundação, em 2002, a facção focava no combate à influência ocidental.
Diversas rodadas de negociação aconteceram entre o governo e o Boko Haram nos últimos anos, sem sucesso. Especialistas indicam que o grupo é muito dividido, o que dificulta as conversas.
Em 2012, o governo decretou estado de emergência pela primeira vez para combater a facção. Desde então, a violência escalou. Organizações denunciam o uso de tortura pelas forças de segurança nigerianas nas operações de busca contra a milícia.