Após sínodo, papa diz que igreja não deve temer mudança
Em missa de beatificação de Paulo 6º, Francisco disse que encontro de bispos foi 'grande experiência' de união
Acenos progressistas a gays e a divorciados foram vetados de texto final da reunião, que terminou no domingo
No mesmo domingo (19) em que beatificou o pontífice Paulo 6º (1897 - 1978), o papa Francisco afirmou em missa no Vaticano que a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos foi uma "grande experiência" de união e afirmou que a Igreja Católica, não deve temer mudanças, em uma referência a possíveis reformas discutidas no encontro por duas semanas.
"Jesus não tem medo de novidades, por isso nos surpreende continuamente, levando por caminhos novos e imprevisíveis. Nos renova, sempre nos faz novos", disse Francisco. "Temos de reagir com coragem a quaisquer novos desafios em nosso caminho (...). Nesses dias, durante o sínodo, vimos o quão verdadeiro isso é."
Nesse tempo, afirmou o papa, "foi sentida a força do Espírito Santo que guia e renova sem cessar a Igreja".
O relatório final do sínodo, porém, mostrou uma cisão entre liberais e conservadores --o que foi visto como uma derrota parcial de Francisco, simpático a um discurso mais reformista.
Em uma versão preliminar do texto que a reunião emitiria a fieis, divulgada na segunda (13), havia acenos de aceitação a gays e a divorciados, como: "as pessoas homossexuais têm dons e qualidades que podem oferecer à comunidade cristã" e que é preciso acolhê-las "aceitando e valorizando sua orientação sexual".
A versão definitiva, entretanto, deixou de fora a maioria dos trechos progressistas. A passagem mais próxima do que se publicou inicialmente foi: "Homens e mulheres com tendência homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza."
O relatório final também diz que não há possibilidade de as doutrinas atuais serem alteradas, e que pastores da Igreja Católica não devem sofrer pressão neste sentido. "É inaceitável (...) que órgãos internacionais condicionem sua ajuda a países pobres à introdução de leis que aceitem o matrimônio' de pessoas do mesmo sexo", diz o documento, em possível referência ao auxílio humanitário a países da África.
BEATIFICAÇÃO
A missa em que o papa comentou sobre o sínodo teve a finalidade de aprovar o pedido de beatificação de Paulo 6º, apresentado pelo bispo Luciano Monari.
Francisco pronunciou a fórmula em latim que declarou beato o pontífice, que ficou à frente da Santa Sé entre 1963 e 1978.
Francisco disse que "a partir de agora o papa Paulo 6º será chamado beato e sua festa se realizará, nos lugares e segundo as regras estabelecidas, em 26 de setembro". Esta é a data de nascimento de Paulo 6º.
O milagre atribuído a ele e que o permitiu ser beatificado é a cura de um feto diagnosticado com graves problemas cerebrais no início da década de 1990 na Califórnia, nos EUA. A mãe se recusou a abortar e rezou para o papa salvar a criança, que nasceu saudável.
Agora, os defensores de tornar Paulo 6º um santo precisam apresentar um segundo milagre que, se o Vaticano reconhecer, completará o processo de santificação.