Comandantes militares dizem ter derrubado ditador de Burkina Fasso
Em dia de fúria, opositores queimaram Parlamento contra quinto mandato a Blaise Compaoré
Mandatário, que está desaparecido, governa país africano há 27 anos; Forças Armadas anunciam transição
O Exército de Burkina Fasso, no oeste da África, anunciou nesta quinta-feira (30) a dissolução do Executivo e do Legislativo do país após uma série de protestos contra o ditador Blaise Compaoré, que está no poder há 27 anos.
A decisão foi anunciada após os manifestantes incendiarem o Parlamento e outros prédios públicos da capital, Uagadugu, contra a aprovação da quinta reeleição consecutiva do mandatário.
Encaminhada aos legisladores no dia 21, a medida deveria ter sido votada nesta quinta. A sessão, porém, foi interrompida pela entrada de 1.500 manifestantes que romperam o cordão policial que protegia o Parlamento.
Os opositores atearam fogo em escritórios e na sala do presidente da Câmara e roubaram móveis e eletrônicos.
Do lado de fora, incendiaram veículos. As sedes da imprensa estatal também foram invadidas e canais de TV e rádios foram tirados do ar.
Em seguida, o grupo tentou chegar ao palácio presidencial, mas foi impedido pela polícia. Os agentes atiraram bombas de gás lacrimogêneo, além de usar munição letal contra os manifestantes.
Segundo os serviços de saúde do país, pelo menos uma pessoa morreu nos confrontos, mas as agências de notícias Reuters e Associated Press relatam terem visto pelo menos três mortos.
Diante da violência, o ditador decretou o estado de emergência e dissolveu o gabinete de ministros para tentar negociar com a oposição.
A trégua proposta pelo ditador, porém, acabou assim que houve o anúncio dos militares.
O chefe das Forças Armadas, Honoré Traoré, decretou que o país terá um governo de transição de 12 meses, que deverá ser substituído por um novo presidente eleito.
Os militares também fecharam as fronteiras e determinaram toque de recolher de 19h às 6h em Uagadugu. Os manifestantes, porém, seguiram reunidos na capital.
Antes da deposição de Compaoré, eles pediam que o ex-ministro da Defesa, Kouamé Lougeé, fosse o novo mandatário. O paradeiro do ditador continuava desconhecido nesta quinta.
APOIO OCIDENTAL
Um dos países mais pobres e menos desenvolvidos da África, Burkina Fasso mantinha certa estabilidade nos últimos anos. O país também é conhecido por sediar o Festival Pan-Africano de Cinema, o principal do continente.
Governando o país desde 1987 após dar um golpe, Blaise Compaoré contava com o apoio da ex-metrópole França e dos EUA.
O país sedia uma das bases francesas usada no combate a radicais islâmicos no vizinho Mali. Em nota, Paris pediu calma e condenou a violência nos protestos.
Enquanto isso, a Casa Branca mostrou preocupação, mas criticou o ditador por tentar mudar a Constituição para voltar a se reeleger.