Chefe militar dirigirá transição no país
Aliado político do ex-ditador, Honoré Traoré é rejeitado por manifestantes, que desejam ex-ministro no comando
Paradeiro de Compaoré ainda é desconhecido; segundo diplomatas, ele viaja para Gana, onde deve pedir asilo
Após horas de incerteza, o ditador de Burkina Fasso, Blaise Compaoré, renunciou nesta sexta-feira (31) ao cargo que ocupou por 27 anos. O país será comandado interinamente pelo chefe militar, Honoré Traoré, até a realização de novas eleições.
A renúncia acontece um dia depois de protestos violentos contra o projeto que daria a Compaoré a chance de concorrer ao quinto mandato em 2015. Os opositores incendiaram o Parlamento antes da votação da mudança na Constituição.
Na televisão estatal, o ditador disse que renunciava "para manter os ganhos democráticos, assim como a paz social". "Acredito que cumpri o meu papel, tendo como única preocupação os maiores interesses da nação".
Ele anunciou o início de uma transição de 90 dias para que sejam organizadas e realizadas eleições. A renúncia foi comemorada pelos manifestantes nas ruas da capital Uagadugu.
A festa, porém, deu lugar à apreensão horas depois, quando o chefe militar do país, Honoré Traoré, disse estar a cargo do país. Ele não citou prazo para a transição.
A posse de Traoré, aliado próximo do ditador, desagrada os manifestantes. A maioria deles quer que a transição seja comandada pelo ex-ministro da Defesa Kouamé Longué, um dos principais líderes da oposição.
"Nós nos levantamos, lutamos e ganhamos. Agora dizemos que queremos este homem [Pongue] para nos liderar", disse um dos líderes do protesto à rede britânica BBC.
Alguns dizem que não deixarão as ruas até que Traoré deixe o poder, em sinal de que a instabilidade política pode continuar.
Os protestos começaram no dia 21, quando Compaoré enviou ao Parlamento o projeto da quarta reeleição. Os atos ficaram mais intensos no início da semana.
Na quinta (30), Uagadugu viveu um dia de violência. Além do incêndio no Parlamento, televisões e rádios estatais foram invadidas, assim como houve saques em lojas e outros prédios públicos.
Horas depois da revolta, os militares decretaram a dissolução do Legislativo e do Executivo, anunciaram eleições em um ano e toque de recolher para tentar dar fim às manifestações.
A medida não teve o efeito desejado. Durante a noite, Compaoré chegou a anunciar que se manteria no cargo até o fim do mandato, em 2015.
Os anúncios contrários aumentaram a pressão popular, o que levou à renúncia do ditador. O pronunciamento foi gravado em um local ainda desconhecido.
Segundo diplomatas estrangeiros, Compaoré estaria em um comboio protegido por militares em direção à cidade de Po, na fronteira com Gana. Ainda não se sabe se ele pedirá asilo ao vizinho.
REAÇÕES
A renúncia foi bem recebida pela França. O presidente François Hollande reiterou seu apoio à Constituição da ex-colônia, assim como a realização de eleições rápidas. A União Europeia também respaldou o mesmo desejo.
Tanto a ex-metrópole como os Estados Unidos apoiavam Compaoré. Burkina Fasso abriga uma base francesa usada para combater radicais islâmicos no norte da África.
Por outro lado, o ditador era questionado por suas relações com o ex-líder líbio Muammar Gaddafi e o ex-ditador da Libéria Charles Taylor, além do apoio a guerras civis em Serra Leoa.