México prende prefeito acusado de ataque
Promotores afirmam que José Luis Abarca ordenou emboscada que levou ao desaparecimento de 43 estudantes
Ele e a mulher teriam laços com cartel e eram foragidos; presidente crê que prisão ajudará a resolver o caso
A Polícia Federal do México prendeu na madrugada desta terça-feira (4) o ex-prefeito de Iguala José Luis Abarca e sua mulher, María de los Ángeles Pineda, em uma casa na Cidade do México.
Os dois são apontados pela Procuradoria-Geral da República como mandantes da emboscada aos alunos da escola normal rural de Ayotzinapa, em 26 de setembro.
Para os promotores, Abarca ordenou que a polícia municipal e membros do cartel Guerreros Unidos alvejassem os ônibus em que estavam os estudantes. No ataque, seis pessoas morreram, 26 ficaram feridas e 43 alunos da escola estão desaparecidos (provavelmente mortos).
Os investigadores acreditam que o ataque foi organizado pelo casal para não prejudicar um evento que lançaria María de los Ángeles à prefeitura. Eles estavam foragidos desde 30 de setembro.
O casal foi preso às 2h30 locais (6h30 em Brasília) em uma casa de Iztapalapa, bairro pobre da Cidade do México, que havia sido alugada por um período de quatro meses. Em seguida, os dois prestaram depoimento.
O interrogatório ainda não havia terminado até a conclusão desta edição. A prisão do casal foi celebrada pelos dirigentes políticos mexicanos.
O presidente Enrique Peña Nieto disse que a detenção ajudará na resolução do caso. O líder do esquerdista PRD, Carlos Navarrete, defendeu "todo o peso da lei" contra o prefeito, que era filiado ao partido.
O assessor jurídico dos alunos desaparecidos de Ayotzinapa, Vidulfo Rosales, disse esperar que os suspeitos deem informações importantes que levem ao paradeiro dos 43 estudantes.
"CASAL IMPERIAL"
O avanço político de José Luis Abarca e María de los Ángeles Pineda ocorreu após uma carreira empresarial de êxito. Os dois chegaram a Iguala como comerciantes de chapéus e vestidos de noiva.
Os quatro irmãos de María de los Ángeles seriam operadores do cartel do tráfico de drogas Guerreros Unidos, um dos maiores do Estado. Três deles foram mortos em uma operação policial em 2009.
Há dez anos, eles começaram a negociar ouro, o que levou à riqueza. Em 2008, iniciaram a construção do maior shopping da cidade, que tem 123 mil habitantes.
A inauguração foi acompanhada pelo senador Lázaro Mazón, que virou padrinho político do casal e os levou à Prefeitura de Iguala em 2012.
Segundo a imprensa mexicana, o casal trabalhava junto na prefeitura, como se ela fosse uma vereadora. O prefeito foi acusado de nepotismo ao empregar parentes.
Ele também é acusado de matar quatro líderes de movimentos sociais entre o ano passado e abril deste ano. As mortes levaram a protestos, que tiveram a participação dos alunos de Ayotzinapa.