Guerra às drogas criou minicartéis, diz pesquisador
Para Alejandro Hope, divisão de quadrilhas no México gerou situação pior que a da Colômbia nos anos 1990
Especialista considera que bandos menores levaram violência para o interior, como na emboscada em Iguala
O México enfrenta uma situação pior que a da Colômbia após a morte de Pablo Escobar, chefe do cartel de Medellín, em dezembro de 1993.
Os sete cartéis desarticulados pela guerra às drogas entre 2007 e 2012 se transformaram em dezenas de "cartéis bebês". Com menos dinheiro, esses grupos vivem também de sequestros e extorsões em zonas rurais.
Entre eles está o Guerreros Unidos, que é acusado de se unir à polícia de Iguala na emboscada contra 43 estudantes da escola normal de Ayotzinapa, em setembro.
Quem explica é Alejandro Hope, um dos maiores especialistas em narcotráfico no México, pesquisador do Wilson Center, em Washington.
Ele também dirige o programa "Menos crime, menos castigo (MC2)", que estuda a crise de segurança no país.
Hope concedeu esta entrevista à Folha em seu escritório, na Cidade do México.
MINICARTÉIS
A guerra às drogas acabou em parte com os grandes cartéis, que foram substituídos por centenas de "cartéis bebês".
No longo prazo, isso é bom, pois eles não têm o poder de intimidação e de cooptação dos grandes. Com o controle de um poderoso general, Escobar derrubava aviões.
Mas os cartéis bebês são menos sofisticados e se financiam com extorsões e intimidação a empresários. Dominam polícias locais.
Ruralização
Houve a ruralização do crime, como na Colômbia pós-Pablo Escobar. O velho traficante era um Papai Noel, que presenteava suas comunidades com status; o "cartel bebê" é parasitário, predatório.
O governo federal sabe destruir cultivos e capturar os chefes, mas não protege pequenos empresários ou evita sequestros. Autoridades locais não sabem o que fazer ou são facilmente cooptadas.
Tráfico domado
Nenhum país acaba com o narcotráfico, ninguém jamais conseguiu, mas o "doma". Temos que nos concentrar menos nas quantidades exportadas e mais nos estragos que essas rotas provocam.
Em Nova York, o consumo de drogas continua o mesmo, mas a violência foi muito reduzida. A Turquia é passagem para 75% da heroína da Europa, mas tem taxa de homicídios de 3/100 mil habitantes.
No caso turco, há uma polícia bem treinada e o tráfico não é ligado à violência. O cenário institucional, social e político precisa ser frágil para que o tráfico corrompa e faça um estrago nas instituições.
Legalização
A maconha representa uma porcentagem mínima do lucro dos cartéis. O negócio mesmo é cocaína, heroína, em alta, e as metanfetaminas.
Não vejo a menor possibilidade de legalização da cocaína, mas lutar por um mundo sem drogas ou sem mercado negro é fantasioso. O ideal seria um modelo não comercial das drogas e a outra alternativa seria comercializar, mas estamos bem longe disso.
Nada Inédito
Nem a escala nem o método do ataque aos 43 estudantes são inéditos. Em 2012, 73 imigrantes foram mortos em Tamaulipas e 53 morreram em um cassino de Monterrey, mas as pessoas já esqueceram.