Minha História - Alzina Nunes, 47
O novo sonho americano
Brasileira que vive nos EUA há 8 anos é uma das 5 milhões de pessoas que devem se beneficiar da reforma anunciada por Obama
RESUMO - A faxineira maranhense Alzina Nunes, 47, vive ilegalmente em Newark, no Estado de Nova Jersey, há oito anos. Desempregada no Brasil, ela se mudou para os EUA com o marido, dois filhos pequenos e grávida de oito meses.
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Agora, por ter uma filha nascida no país, pode ser uma das beneficiadas da reforma imigratória anunciada pelo presidente Barack Obama. Ela pretende pedir visto de trabalho e se aventurar em outros ramos, como o de turismo, para atender à clientela brasileira.
Eu trabalhei dez anos como agente de viagens na Transbrasil, uma companhia aérea que quebrou no dia do meu aniversário, em 2001. Tentei arrumar outro emprego, mas era considerada velha. Entrei em depressão.
Meu marido sempre teve o sonho de morar nos Estados Unidos e decidimos colocar o plano em prática.
Ele viria primeiro, para abrir caminho, e eu viajaria com nossos dois filhos depois de um ano.
Quase três meses depois de ele ter viajado, descobri que estava grávida.
Tentei correr para pedir o visto e viajar antes que a gravidez avançasse, mas só consegui a entrevista depois de cinco meses.
Por trabalhar em uma companhia aérea, eu sabia que depois do sétimo mês eu só poderia embarcar com um médico, por causa dos riscos.
Tenho muita fé e decidi que, se fosse para dar certo, conseguiria viajar.
Eu tinha uma barriga gigantesca, então costurei uma blusa bem larga (que tenho até hoje), coloquei uma legging, um maiô para apertar mais a barriga e agi como se não estivesse grávida.
Não precisei mentir, ninguém me perguntou nada. Acho que o funcionário, na dúvida, não quis me perguntar se eu estava grávida ou gorda.
Minha filha, Sophia, hoje com 8 anos, nasceu duas semanas depois da minha chegada. Ela é legal nos Estados Unidos, tem documentos, passaporte.
Fui muito bem acolhida pela Igreja Metodista aqui, o pastor me deu muito apoio.
Até me casei lá em setembro, oficializei a união com meu marido depois de 25 anos juntos.
Quando a gente chega num país que não é o nosso, tem que ter muita sabedoria.
Para viver no meu país, matava um leão por dia. Para viver aqui, mato dez.
São muitos obstáculos. Mas ninguém me jogou aqui, eu quis vir. Então o desafio é vencer.
Eu vi rapidamente que só poderia trabalhar com faxina. O dinheiro vem e você não precisa dos papéis.
Hoje, eu trabalho para 16 pessoas. Na crise econômica, aprendi que não dá para trabalhar para uma pessoa só. Quando os problemas aparecem, a primeira coisa que eles fazem é cortar gasto com as faxineiras.
Não dá para ficar milionário, mas não me falta nada em casa. Quando eu trabalhava na Transbrasil, tinha um salário bom. Mas chegava na metade do mês e já tinha que fazer aquele milagre de esticar o dinheiro.
Meu filho mais velho, de 20 anos, conseguiu entrar no DACA [Deferred Action for Childhood Arrivals, que legaliza temporariamente a situação de jovens que chegaram ainda crianças aos EUA] em 2012 e hoje faz faculdade de Ciência da Computação.
É um papel provisório, mas é uma brecha, uma luz.
Eu tenho patrões muito ricos, que não entendem. Quando saiu o DACA, eu comecei a chorar muito. Meu patrão perguntou o que havia acontecido e eu expliquei que meu filho poderia fazer faculdade, ter um diploma.
Ele respondeu: "Eu não entendo por que que vocês imigrantes choram tanto por causa dessas notícias".
É muito difícil para alguém que está no topo saber o que nós vivemos.
A vida de imigrante não é fácil. A gente passa constrangimentos. A primeira coisa que você pensa quando é parada por um policial é: vou ser deportada. Esse estresse é muito grande, é angustiante demais.
Uma vez, quase fui deportada porque entrei em um trem sem bilhete.
Eles estavam implementando um sistema novo e eu não sabia.
Fiquei extremamente desconfortável. O fiscal era um imigrante, um latino. E ele foi duro, pediu meu passaporte, meu comprovante de residência. No fim, mostrei meu cartão do banco e ele me aliviou, paguei só uma multa.
Se conseguir essa licença de trabalho temporária, outras portas vão se abrir.
Eu quero poder dominar esse idioma [inglês], poder estudar algo. Tenho vontade de trabalhar com turismo, orientar grupos de brasileiros, levar para fazer compras, passeios.