EUA manterão investigação sobre morte
Inquérito sobre assassinato de jovem negro por policial em Missouri ainda é objeto de dois procedimentos federais
Decisão de júri de inocentar policial branco que matou garoto gerou protestos violentos pelo país
O Departamento de Justiça americano continuará as investigações que podem indiciar o policial Darren Wilson, 28, de Ferguson (Missouri), inocentado por um grande júri na segunda (24).
Wilson matou o jovem negro Michael Brown, 18, em agosto. A decisão dos jurados provocou uma onda de violência na madrugada de segunda para terça e os protestos continuaram em várias cidades até a noite desta terça.
Eric Holder, secretário de Justiça, disse que estão em curso duas investigações federais. "Há uma necessidade de restaurar a fé de muitos na Justiça. [...] Não aceitaremos protestos violentos. Temos de lembrar que os protestos que tiveram os resultados mais duradouros de nossa história foram pacíficos", disse.
Nesta terça, policiais e manifestantes se enfrentaram no meio da Times Square, em Nova York. Os agentes usaram spray de pimenta contra a multidão. Um grupo chegou a bloquear a entrada do Lincoln Tunnel, que liga Manhattan a Nova Jersey.
Em Minneapolis, um motorista jogou o carro contra manifestantes, atropelando uma mulher.
Em Ferguson, cidade de 21 mil habitantes na região de Saint Louis, onde 67% da população é negra, distúrbios violentos explodiram logo após o veredicto, às 20h15 (0h15 de terça em Brasília).
Cerca de mil pessoas se aglomeraram na avenida West Florissant, perto de onde Brown foi morto. Em minutos, um carro da polícia estava em chamas, depois de ter os vidros quebrados.
Aos 700 homens da Guarda Nacional enviados à cidade foram acrescentados mais 1.500 nesta terça.
CALMA
A mãe de Brown, Lesley McSpadden, discursou de cima de um carro. "Todo mundo quer que eu fique calma", disse, soluçando. "Eles sabem como esses tiros acertaram o meu filho?"
O pai, Michael Brown Sr., pediu calma aos manifestantes. "Temos que canalizar essa frustração para uma mudança positiva. Há um sistema a ser mudado."
Mas dezenas de pessoas saquearam lojas e atearam fogo a elas na área mais pobre de Ferguson. Ao todo, 12 prédios foram queimados e 80 pessoas foram presas.
Foi a noite mais violenta em três meses de protestos quase diários, mais até que a de domingo, 10 de agosto, dia seguinte à morte de Brown, quando o governador decretou toque de recolher.
Em pronunciamento, o presidente Obama disse que não "há desculpas" para vandalismos. "Muitas comunidades sentem que nossas leis não estão sendo cumpridas de forma uniforme ou justa. Mas há maneiras produtivas de expressar essa frustração.
Wilson disparou 12 tiros contra Brown, dos quais 7 o acertaram, minutos após o rapaz roubar cigarros em uma loja de conveniência.
A decisão do júri foi duramente atacada por líderes negros. "Quando um negro mata um negro, vai para a prisão, mas, quando um policial branco mata um negro, sai livre", disse o professor Michael Dyson, da Universidade Georgetown.
Entre as principais reclamações dos manifestantes está o fato de a investigação ser conduzida pelo promotor do condado de Saint Louis, Robert McCulloch, 62. Analistas jurídicos disseram que McCulloch deveria ter se declarado impedido para o caso.
Seu pai, ex-policial, foi morto quando ele tinha 12 anos por um jovem negro, e sua mãe e seu irmão, além de um tio e sobrinhos, já trabalharam para a polícia local.
Em entrevista, McCulloch disse que os 12 jurados "deram a vida" para fazer o melhor trabalho de julgamento. Eles se reuniram 25 vezes e ouviram 60 testemunhas.