Polícia detém mais de 100 na Califórnia
Estado registrou manifestações mais violentas na terceira noite de protestos contra o não indiciamento de policial
Frio e neve dispersaram mobilização em outras cidades; jornais dos EUA denunciam violações de protocolo na investigação
A terceira noite de protestos contra o não indiciamento do policial que matou o jovem negro Michael Brown, em agosto, teve seu principal foco no Estado da Califórnia, onde mais de cem pessoas foram detidas.
Em Los Angeles, manifestantes formaram barricadas em ruas do centro da cidade e houve enfrentamento com a polícia, que exigia que eles se dispersassem. Os agentes prenderam cerca de 130 pessoas na noite de quarta-feira (26).
Os protestos em Oakland, também na Califórnia, reuniram menos pessoas, mas foram mais violentos. Parte dos manifestantes cometeu atos de vandalismo, destruindo lojas e carros. Pelo menos 30 pessoas foram detidas.
A neve e o frio, no entanto, fizeram com que as passeatas --que se espalharam por até cem cidades na segunda (24) e na terça (25)-- minguassem em boa parte do país.
Em Ferguson, onde houve vandalismo e saques no início da semana, apenas 40 pessoas se manifestavam nesta quinta (27), diante da forte presença policial e sob temperaturas de -1ºC.
Um grupo de cerca de 50 manifestantes tentou tumultuar a tradicional parada do feriado de Ação de Graças de Nova York, sem muito sucesso. Pelo menos seis pessoas foram detidas ao tentarem romper um bloqueio policial.
O frio e o feriadão também encolheram a repercussão do caso na TV. Tempestades de neve cancelaram 700 voos e atrasaram 4.000 dos 30 mil voos na quarta-feira, dia mais movimentado do ano nos aeroportos americanos, que tiveram mais de 3,5 milhões de passageiros em trânsito.
PROTOCOLO
As TVs americanas mal repercutiram reportagens dos jornais "Washington Post" e "New York Times" sobre violações do protocolo no cenário da morte cometidas pela polícia e pela Justiça de Saint Louis.
Segundo o "Post", depois de matar Michael Brown, 18, o policial Darren Wilson, 28, voltou dirigindo sua própria viatura para a delegacia, sem ser escoltado, lavou as mãos e colocou ele mesmo o revólver no plástico onde são guardadas as evidências.
Especialistas disseram ao jornal que há diversos manuais dizendo que um policial jamais pode sair do local nessa situação. Ele deveria ainda ter retirado o uniforme para posterior investigação e não poderia ter lavado as mãos ou "mudado sua aparência".
Os superiores de Wilson não gravaram as declarações do policial logo após matar Brown. Seu único testemunho sobre o que ocorreu aconteceu mais de um mês depois, quando testemunhou ao "grand jury" (júri para decidir sobre o indiciamento).
Os investigadores de Saint Louis nem tomaram as medidas do local da tragédia, nem tiraram fotos. Um investigador disse que a bateria de sua câmera havia acabado.
Os advogados do policial revelaram que o policial se casou desde que se ausentou da polícia (ele está em licença remunerada desde agosto) e que espera seu primeiro filho.