Ato antiviolência une milhares nos EUA
Manifestantes tomaram ruas de Washington para pedir medidas contra a violência policial que vitimou negros
Organizadores se inspiraram em ato que reuniu 250 mil em 1963; não há estimativa oficial de público
"Meu marido era um homem quieto, mas olhem quanto barulho ele está fazendo agora", disse Essaw, a mulher de Eric Garner, a uma multidão que protestava em Washington contra casos recentes de violência policial contra negros nos EUA.
Milhares de pessoas se reuniram na Freedom Plaza, em Washington, neste sábado (13) para marchar ao lado das famílias de Garner, de Michael Brown, morto por um policial, e de Tamir Rice, um garoto de 12 anos assassinado em novembro quando brincava com uma arma de plástico em Cleveland (Ohio).
Aos gritos de "Sem Justiça, Sem Paz", eles marcharam até o Congresso norte-americano usando camisetas e segurando cartazes com as frases "As vidas dos negros são importantes" e "Eu não consigo respirar" --as últimas palavras de Garner, sufocado por policiais em uma abordagem em Nova York, em julho.
Comandada pelo reverendo Al Sharpton, conhecido ativista dos direitos civis no país, a marcha Justiça para Todos pedia a intervenção do governo federal para que os responsáveis pelas mortes sejam responsabilizados.
"Uau, é um mar de gente", disse a mãe de Michael Brown, Lesley McSpadden, em um discurso emocionado no palco montado pelos organizadores. "Se eles virem isso e não mudarem nada, não sei o que faremos."
"Cinquenta anos depois nós ainda estamos pedindo pelas mesmas coisas. Nada mudou", afirmou Quintin Hagens, 54, em referência à Marcha Sobre Washington em que Martin Luther King (1929-1968) fez seu famoso discurso "I have a dream" ("Eu tenho um sonho").
Ao longo da semana, os organizadores tentaram evocar a marcha, que reuniu 250 mil pessoas na capital americana em 1963, como forma de atrair atenção (e apoiadores) para o evento desse sábado.
A Rede Nacional de Ação, liderada por Sharpton, estimava que cerca de 6.000 pessoas comparecessem à manifestação deste sábado.
Nenhuma estimativa oficial, no entanto, foi dada.
"Este país é uma contradição ambulante. Estamos sempre apontando as violações de direitos humanos que acontecem em outros países. E olha só o que temos acontecendo aqui", disse Satchell Haughton, 28, um jamaicano morador de Nova Jérsei, que veio a Washington para participar da marcha.
O protesto atraiu organização de direitos civis de diversas partes do país. Outras manifestações também ocorreram ao longo do dia em Nova York, Boston (Massachusetts) e Austin (Texas).
Bem organizada e com infraestrutura, a marcha lembrava pouco os protestos das últimas semanas em Nova York e Ferguson, Missouri, organizados por jovens e sempre seguidos pela presença constante da polícia.
Em Washington, os policiais cuidaram de bloquear as vias para o protesto passar, mas não se aproximaram dos manifestantes.
Banheiros químicos também foram instalados para os participantes. Vendedores ambulantes comercializavam, a US$ 10 [cerca de R$ 26] camisetas de todas as cores com as frases usadas pelos manifestantes e até calendários com as fotos das vítimas.
Questionado se a venda dos produtos tinha relação com a organização da marcha, um vendedor respondeu: "É o capitalismo na América, querida".