Brasileira sequestrada pode ficar com estilhaços no corpo
Marcia Mikhael disse à Folha acreditar que torcida a ajudou a sobreviver
Goiana foi uma das 17 pessoas mantidas reféns por radical islâmico iraniano em cafeteria na Austrália
Em um quarto privativo do hospital Royal North Shore, em Sydney, e cercada de familiares, Marcia Mikhael, 43, se recuperava nesta quarta-feira (17) de cirurgia para retirar estilhaços de balas e explosivos de suas pernas.
A brasileira foi uma das 17 pessoas mantidas reféns num café da cidade australiana pelo radical islâmico Man Haron Monis na segunda (15).
"Tive cerca de 70 estilhaços em cada perna. Muitos foram extraídos, mas talvez os menores não possam ser retirados", relatou à Folha e ao portal Terra em sua primeira entrevista desde que foi resgatada do sequestro no Lindt Cafe, no Martin Place, centro financeiro de Sydney.
A personal trainer está com as duas pernas enfaixadas até o joelho depois de cirurgia realizada nesta terça (16), mas mantém otimismo em relação às competições de fisiculturismo de que participa.
"Quero voltar a treinar assim que me recuperar e sair daqui", declarou Marcia, que se exercita regularmente e ganhou um campeonato mundial da modalidade na Grécia, no ano passado.
Emocionada, Marcia manifestou agradecimento às centenas de mensagens de solidariedade que tem recebido de todas as partes do mundo.
"Agradeço a todas as orações e manifestações de carinho das pessoas que rezaram e torceram para que eu saísse de lá com vida. Acho que foi isso que me salvou", afirmou a sobrevivente.
DETALHES
Marcia avisou, no entanto, que ainda não poderia comentar detalhes do sequestro. Quando estava em poder do sequestrador, ela falou ao telefone com uma rede de TV e pediu que as exigências do agressor fossem cumpridas.
"A polícia pediu para a gente manter sigilo por enquanto, com o objetivo de proteger as investigações", explicou. A polícia já esteve no hospital para conversar com a brasileira.
Para seu irmão, Carlos El Khouri, no entanto, Marcia relatou alguns momentos de horror que viveu dentro do Lindt Cafe. "A moça [Katrina Dawson, 38, uma das vítimas fatais do sequestro] morreu ao lado dela", relatou Carlos.
O irmão conta ainda que o sequestrador estava atirando para fora do prédio quando a polícia invadiu a cafeteria, logo após a fuga de um grupo com cinco pessoas. "A polícia matou os reféns", acusou.
Revoltado, Carlos criticou a polícia. "Eles não fizeram nada. Ficaram caminhando de um lado para o outro sem tomar atitude", disse.
Carlos, que ficou próximo do café durante o sequestro, ofereceu-se como voluntário para levar a bandeira do Estado Islâmico, exigência de Monis, para dentro do prédio. "A polícia poderia ter usado um atirador de elite para matar o sequestrador, evitando a tragédia que terminou com a morte de duas pessoas."
A imprensa australiana também discute a demora da polícia em agir. A corporação argumentou que o agressor carregava uma mochila que poderia conter explosivos.
O primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, cobrou explicações sobre o fato de Monis, alvo de diversas acusações, ter porte de armas e ter sido retirado da lista de pessoas potencialmente perigosas dos serviços de inteligência do país.