Análise
Acordo EUA-Cuba e eleições mudam relações no continente
A reconfiguração das relações interamericanas está na agenda, tendo em mente o processo de normalização diplomática entre Cuba e os EUA, bem como as recentes mudanças resultantes de processos eleitorais em 2014. Em 2015, Argentina e Guatemala elegerão novos presidentes, enquanto México e Venezuela renovarão os Legislativos.
O fim do isolamento de Cuba permite que seu governo se concentre nas reformas internas e elimina uma das principais críticas cubanas a Washington, criando a oportunidade de uma etapa mais construtiva em escala regional.
A expectativa é de mais espaço para o pragmatismo do que para a retórica do confronto. Muito dependerá da atuação da Venezuela no Conselho de Segurança da ONU, no qual acaba de ingressar, e da superação dos obstáculos bilaterais existentes por conta das sanções impostas por Washington.
Na Colômbia, a expectativa de acordo final com as Farc é realista, o que porá fim a um conflito que incide sobre a segurança dos vizinhos.
Os países-membros da debilitada Aliança Bolivariana (Alba) criticam a Aliança do Pacífico, que continua avançando em seus objetivos enquanto outros processos sub-regionais se paralisaram.
A queda de preço do petróleo e das matérias-primas, assim como as expectativas de crescimento econômico fraco, obrigam a região a prestar mais atenção a suas dificuldades internas, o que leva, em alguns casos, à busca de alternativas de financiamento.
Equador e Venezuela recorreram à China. A visita de Maduro a países da Opep teve por fim buscar a estabilização do mercado petroleiro e obter recursos necessários para atenuar sua crise.
Washington não tem uma política para a América Latina que privilegie enfoque nos países que mais interessam por seu peso político e econômico. As mudanças geopolíticas forçam os EUA a exercer presença mais ativa na sua zona tradicional de influência.
Em 2015, será eleito o novo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), órgão cada vez mais debilitado e irrelevante.
Nesse contexto, a 7ª Conferência de Cúpula das Américas, que acontece no Panamá em abril, se apresenta como o melhor cenário hemisférico ao reunir pela primeira vez os 35 chefes de Estado e governo da região, incluindo Cuba.
Os EUA sinalizaram que colocarão sua ênfase no tema da democracia e dos direitos humanos. Mas desta vez isso não ocorrerá mais sob a ameaça da exclusão e do isolamento.