Evo critica ações dos EUA contra o tráfico
Na posse de seu 3º mandato, presidente diz que Bolívia é mais eficiente que agência antidrogas norte-americana
No fim de seu discurso, líder boliviano indica que 'teimosia' impede mulheres de chefiar o Executivo do país
O presidente boliviano, Evo Morales, assumiu na quinta-feira (22) seu terceiro mandato afirmando que nacionalizar o combate ao narcotráfico dá mais resultados do que a ajuda dos EUA.
"Quero pedir desculpas à comitiva norte-americana, mas sem vocês somos eficazes na luta contra o narcotráfico. Quando tínhamos a DEA (agência antidrogas dos EUA) aqui, nos deixaram com 34 mil hectares de plantação de coca; agora temos 22 mil e boa parte é dedicada à coca para consumo legal", disse.
Evo também afirmou que insistirá junto à Corte de Haia e a outros organismos internacionais pela reivindicação boliviana de saída ao mar, através do atual território chileno. O impasse, que desencadeou a Guerra do Pacífico, em 1879, estende-se pela negativa do Chile em negociar.
Os chilenos pedem respeito a um acordo firmado em 1904, em que a Bolívia foi restituída financeiramente pelo território. "Voltaremos a ver o mar, é nossa vocação, o império que aqui existia tinha litoral", afirmou Evo.
O líder boliviano justificou sua continuidade no poder, apesar de a atual Constituição só permitir uma reeleição.
A Corte Suprema avaliou que, devido à mudança da Carta em 2009, o presidente estaria, tecnicamente, apenas no segundo mandato.
"Nunca nenhum projeto político teve tanta popularidade na Bolívia. Vencemos três eleições com mais de 50%, 60% dos votos, e temos maioria no Parlamento."
O boliviano começou seu discurso defendendo os avanços de sua gestão, que completou nove anos, na redução da pobreza (hoje em 11%) e no bom crescimento do país (5,5% no ano passado). "Vamos reduzir a um dígito o índice de pobreza, e melhoraremos a saúde para evitar que bolivianos tenham de se tratar no exterior", prometeu, em referência ao Brasil.
À cerimônia compareceram os presidentes Dilma Rousseff (Brasil), Nicolás Maduro (Venezuela), Rafael Correa (Equador) e Horacio Cartes (Paraguai), e o vice-presidente argentino, Amado Boudou.
Dilma chegou a La Paz momentos antes de a cerimônia começar e, sem dar declarações, saiu logo após a foto oficial. Sorridente e vestida de casaco verde, a presidente colocou um poncho cor-de-rosa oferecido no aeroporto e posou para fotos.
Em 2014, Evo havia reclamado que a presidente jamais visitara a Bolívia, ao contrário de seu antecessor, Lula.
A relação entre os dois países havia ficado chamuscada após a fuga do senador oposicionista Roger Pinto, auxiliada por funcionário do Itamaraty em La Paz. Até hoje a embaixada brasileira na Bolívia está sem um titular.
MULHERES 'TEIMOSAS'
Ao final de seu pronunciamento, Evo elogiou o aumento da participação feminina no Parlamento na última década, mas indicou que havia um motivo para as mulheres não serem presidentes.
"Se não fossem tão teimosas, mandariam no país, porque são honestas e mais trabalhadoras. Só peço que parem de brigar entre si", disse.
Não é a primeira vez que Evo faz comentários considerados machistas pela oposição e por organizações feministas, pelos quais já pediu desculpas anteriormente.
Apesar de o presidente reforçar o dado de que 50% dos parlamentares da última gestão são mulheres, líderes oposicionistas chamam a atenção para o fato de que a maioria é de origem indígena e camponesa, não representando as mulheres das áreas urbanas.