Premiê do Iraque vai a Davos e tenta expor lado positivo do país
Governo iraquiano luta contra Estado Islâmico e está prestes a anunciar medidas de austeridade
Mesmo com situação instável, Haidar al-Abadi convida empresas brasileiras a voltarem ao Iraque
Haidar al-Abadi, premiê do Iraque, está convencido de que a maré da guerra contra o EI (Estado Islâmico) mudará quando forças iraquianas retomarem a cidade de Mossul, a maior das que estão em poder da milícia radical. A ofensiva está sendo preparada para o verão do hemisfério Norte, que começa em junho.
Abadi tem uma explicação para o longo intervalo: "Temos de ganhar cada batalha. Não faz sentido entrar numa que não se possa ganhar". A reconquista de Mossul privará o EI, acha o premiê, da legitimidade conquistada ante parte da população sunita.
É essa perspectiva que faz do xiita Abadi, 62, premiê desde agosto, um otimista, se se pensar que as notícias do Iraque são sempre negativas.
Tão otimista que convida empresas brasileiras, que fizeram bons negócios na ditadura de Saddam Hussein, a voltar ao país. "Elas estão esperando para ver o que acontece, mas os negócios não podem esperar", disse à Folha.
O otimismo do premiê se apoia no fato de que agora está em curso o treinamento de forças iraquianas pelos EUA, após uma demora que ele considera exagerada. Abadi reconhece que, nos primeiros combates contra o EI, "as tropas derreteram", o que crê que não se repetirá agora.
Mas ele não espera tropas estrangeiras no terreno (coalizão liderada pelos EUA atua só com bombardeios aéreos, aparentemente efetivos, tanto que os americanos calculam que 6.000 militantes islâmicos foram mortos e 480 km² de território recuperados).
A recuperação de territórios faz o primeiro-ministro afirmar que "a maior parte do Iraque está pacificada" e que na capital, Bagdá, "a situação está sob controle".
Entretanto, seu otimismo não o impede de reconhecer que o EI mantém "bolsões" de resistência mesmo em áreas recuperadas pelo governo central. E que atentados vão continuar ocorrendo.
De todo modo, se a situação melhorou, isso se deve, segundo o premiê, ao fato de que ele, xiita, aproximou-se muito dos sunitas (o EI é sunita), que se sentiam excluídos após a queda de Saddam.
A guerra ao EI não é a única batalha. No "front" econômico, o governo prepara medidas de austeridade que, admite, "a população não está preparada para aceitar".
Com essas duas difíceis frentes abertas, mesmo assim Abadi decidiu vir a Davos para o Fórum Econômico Mundial, uma maneira de mostrar um Iraque menos sangrento.