Cristina quer mudar setor de inteligência
Líder argentina critica agentes por "bombardear governo" com denúncias como a do promotor Alberto Nisman
Reforma no sistema será votada pelo Congresso; para ela, assistente de promotor é suspeito e aliado do Grupo Clarín
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou nesta segunda-feira (26) que enviará ao Congresso um projeto de lei para acabar com a Secretaria de Inteligência.
A decisão é tomada uma semana após a morte do promotor Alberto Nisman, que investigava o ataque à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), que deixou 85 mortos em 1994.
As conversas telefônicas de agentes da Secretaria de Inteligência foram uns dos principais materiais que usou para poder denunciar Cristina por encobrir as investigações do atentado em troca de um acordo comercial com o Irã.
Em discurso de uma hora em cadeia de rádio e televisão, a mandatária afirmou que a nova agência criada terá estrutura mais centralizada. Nela, apenas o diretor poderá se comunicar com governantes e legisladores.
Ela também propõe que o Ministério Público seja o responsável pelas escutas telefônicas, por ser um poder independente dos outros três.
O acordo ainda precisa passar pelo Congresso, onde o kirchnerismo é maioria. Para a presidente, o acordo será uma forma de diminuir o uso político dos arapongas.
Ela criticou os agentes e o promotor por ter considerado que o acordo com o Irã para ouvir os acusados do atentado em Teerã significava a impunidade dos suspeitos.
Cristina defendeu o acordo como um instrumento de investigação e disse que, a partir da assinatura, observou que agentes de inteligência passaram a criticá-la.
"Eles começaram a bombardear o governo e se intensificam uma série de denúncias inusitadas contra essa presidente", disse.
Dentre elas, está a denúncia de Nisman que, para a presidente, "é absurda e com um texto sem pé nem cabeça". Ela reforçou a ideia dita por outros governistas de que o promotor não havia redigido o documento.
Além de criticar os agentes de inteligência, ela reclamou da Justiça, dizendo que falta transparência ao poder.
ASSISTENTE
Cristina Kirchner também arremeteu contra o técnico de informática Diego Lagomarsino, que era um dos assistentes de Nisman e lhe forneceu a arma calibre.22 com que teria se matado.
Na TV, a mandatária disse que o assistente do promotor "não é só um opositor", mas irmão de um sócio de um escritório que assessora o Grupo Clarín, que faz oposição ao governo e é um dos principais alvos de suas críticas.
O conglomerado de imprensa negou qualquer envolvimento de Lagomarsino com o grupo. Ele foi imputado na fase de instrução da investigação pela promotora Viviana Fein, responsável por esclarecer a morte de Nisman.
Fein considera-o suspeito por ter emprestado a pistola ao promotor, o que é crime punido com pena de um a seis anos de prisão.
Segundo Cristina, o suspeito teria solicitado um passaporte em 14 de janeiro, mesmo dia em que Nisman denunciou a presidente.
Por fim, ela criticou os gritos de assassina ditos por manifestantes dias após a morte do promotor, no dia 18, e disse ter sido a presidente que mais fez para que se resolvesse o caso do ataque à Amia.
Como exemplo, citou os pedidos de cooperação feitos ao Irã em discurso na Assembleia-Geral da ONU.