Sobreviventes retornam a Auschwitz
Judeus pedem combate ao antissemitismo durante cerimônia pelo 70º aniversário de libertação do campo nazista
Europa vem sendo palco de atos contra alvos judaicos, como atentado terrorista a mercado kosher no dia 9 em Paris
Tendo como pano de fundo o aumento do antissemitismo na Europa, sobreviventes do Holocausto e chefes de Estado se reuniram nesta terça (27) em Auschwitz, na Polônia, para proclamar um novo "Nunca mais!", 70 anos depois da libertação do campo nazista.
Com discurso em que lembrou os recentes ataques na França contra um mercado kosher e o jornal satírico "Charlie Hebdo", o presidente do Congresso Mundial Judaico, Ronald Lauder, pediu que os líderes mundiais evitem um novo Auschwitz.
O apelo foi feito perante 300 sobreviventes do campo mais famoso dos nazistas, onde 1,1 milhão de pessoas foram assassinadas.
"Por um tempo, pensamos que o ódio finalmente havia sido erradicado. Mas lentamente a demonização dos judeus começou a voltar", disse. "Mais uma vez, judeus têm medo de usar solidéus em Paris, Budapeste e Londres. Mais uma vez, lojas judaicas são alvo. E, mais uma vez, famílias fogem da Europa."
O ataque em Paris no dia 9, quando quatro judeus foram mortos no mercado, não é o primeiro atentado contra essa população recentemente.
Em maio, um tiroteio deixou quatro mortos no Museu Judaico de Bruxelas e, em 2012, um rabino e três crianças foram mortos na cidade francesa de Toulouse.
A Europa também testemunhou um aumento de antissemitismo durante a guerra de Gaza, entre julho e agosto, com protestos violentos em Paris e com outras hostilidades no continente.
Roman Kent, 85, um dos sobreviventes do Holocausto, se emocionou ao pedir aos líderes mundiais que lutassem pela tolerância. "Não queremos que nosso passado seja o futuro de nossas crianças", disse.
Políticos também participaram da cerimônia, com o presidente russo, Vladimir Putin, ausente apesar de o Exército soviético ter libertado o campo. Segundo Moscou, ele não foi porque não recebeu um convite oficial. A mesma justificativa foi dada pelo Brasil, que não enviou representante.
Entre os presentes estava o presidente francês, François Hollande, que prometeu combater o extremismo violento que atingiu seu país.
Também compareceram os presidentes da Alemanha, Joachim Gauck, e da Ucrânia, Petro Poroshenko, o secretário do Tesouro dos EUA, Jack Lew, e o chefe de gabinete russo, Serguei Ivanov.
Ao presidir um ato em Moscou por Auschwitz, Putin criticou o que chamou de "tentativa de reescrever a história". A declaração pareceu crítica ao chanceler polonês, Grzegorz Schetyna, que disse que Auschwitz foi libertado pelos ucranianos, e não pela URSS.
A presidente Dilma Rousseff divulgou nota pelo Dia em Memória às Vítimas do Holocausto em que afirma que se junta a todos "os que rendem homenagens aos 6 milhões de judeus vitimados por um dos mais trágicos episódios do século 20".