Morte de promotor vira tema de eleição argentina
Para analista, suspeitas sobre o caso terão mais influência do que provas
Segundo pesquisa, 70% dos argentinos afirmam que promotor que fez denúncia contra Cristina foi assassinado
"O kirchnerismo ainda articula o sistema político da Argentina. Os outros respondem a ela [Cristina]Maria Esperanza Casullosobre a influência da presidente na eleiçãoO governo gerenciou mal a comunicação sobre o casojose bordondizendo que o fato pode atrapalhar o candidato governista
A morte do promotor Alberto Nisman, encontrado com um tiro na cabeça quatro dias depois de denunciar Cristina Kirchner, abriu uma crise política na Argentina no ano em que o país vai eleger o próximo presidente.
Uma pesquisa realizada pelo instituto Ipsos aponta que 70% dos argentinos pensam que o promotor tenha sido assassinado. E, entre os que têm essa opinião, 57% afirmaram considerar que o crime teve a participação do governo kirchnerista.
As perguntas foram feitas no dia em que surgiu a notícia da morte, quando ainda não havia muita informação sobre o caso.
Para o analista político Jose Octavio Bordon, "rumores e suspeitas vão influenciar mais as pessoas do que as provas que podem ser apresentadas".
Ele diz considerar não só a morte como duvidosa, mas que a maneira como Cristina tratou o caso atrapalhará o candidato do governo.
"O governo gerenciou mal a comunicação sobre o caso. Não deram nem condolências à família", disse.
Para o analista Ricardo Rouvier, ainda é cedo para dizer de qual maneira a crise vai influenciar a corrida presidencial no país.
A escolha dos candidatos acontece em 9 de agosto, data das eleições primárias, obrigatórias pela lei eleitoral.
INVESTIGAÇÃO
A oposição já começou a se movimentar. Uma frente de políticos contrários ao governo assinou um pedido à Procuradoria para que o trabalho de Alberto Nisman tenha continuidade.
Entre os signatários estão dois dos principais presidenciáveis, Maurício Macri, prefeito de Buenos Aires, e o deputado Sergio Massa.
O pré-candidato governista com mais chances no momento é governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli.
Macri, Massa e Scioli são os presidenciáveis com mais chances nas pesquisas até o momento. Os nomes dos três aparecem próximos em pesquisas de intenção de voto.
Macri faz oposição aberta ao governo dos Kirchner e se coloca como um candidato mais simpático ao mercado.
Massa, que já foi ministro da atual presidente, tenta se posicionar como alguém que irá corrigir arestas de um governo que se desvirtuou.
E Scioli é do mesmo partido de Cristina, mas procura se mostrar como alguém mais negociador do que a atual presidente.
MORTE E ECONOMIA
O caso do promotor encontrado morto deve ser um dos que terão grande influência nas eleições, afirma Bordon, mas "ele isoladamente não tem força para determinar quem será o eleito".
A economia também vai ter um papel importante no resultado, afirma outro analista, Julio Burdman.
"A pergunta é o que vai acontecer neste ano. Se a economia seguir mais ou menos estável até o fim do mandato, o oficialismo deve ganhar. Mas, se o mal-estar for mais forte, a chance da oposição aumenta."
"Outro fator será a participação de Cristina Kirchner na campanha", diz a cientista Maria Esperanza Casullo.
A medida dessa influência vai variar de acordo com a força política que a presidente apresentar no momento em que chegarem as eleições.
"O kirchnerismo ainda articula o sistema político da Argentina. Os outros respondem a ele", disse Casullo.
Burdman afirma que, apesar disso, Cristina, sozinha, não tem força para eleger o seu sucessor. Outra variável, a mídia, não deve decidir a eleição presidencial.
"Os grandes grupos de mídia não fariam oposição a um peronista. O problema do Grupo Clarín não é com Scioli, mas com Cristina."