Filho de Bachelet será investigado no Chile
Sebastián Dávalos é acusado de usar influência para obter empréstimo vantajoso; procuradoria abre inquérito
Dinheiro foi usado para comprar terrenos, vendidos depois com lucro de 45% após mudança em legislação
Após receber duas denúncias de parlamentares de oposição, a Procuradoria Nacional do Chile decidiu investigar se o filho da presidente do país, Michelle Bachelet, teve acesso privilegiado a um empréstimo bancário, aprovado um dia depois da eleição dela, em dezembro de 2013. Para isso, foi designado o procurador Luis Toledo.
Segundo as denúncias, Sebastián Dávalos e sua mulher, Natalia Compagnon, teriam tido tratamento facilitado ao receber um empréstimo do Banco do Chile, instituição privada, equivalente a R$ 27 milhões. Há suspeita de informação privilegiada.
O dinheiro foi usado pela empresa Caval, de Compagnon, para comprar terras na comuna de Machalí. Mais tarde, elas foram vendidas por cerca de R$ 40 milhões --as terras se valorizaram após um plano diretor encaminhado pelo governo em 2014.
O empréstimo foi concedido à Caval depois que o casal se reuniu com o vice-presidente da instituição, Andrónico Luksic, um dos homens mais ricos do Chile, em 6 de novembro de 2013. A aprovação saiu em dezembro do mesmo ano, um dia após o segundo turno, em que Bachelet se elegeu.
A principal novidade, apenas agora confirmada pelo Banco do Chile, é que Dávalos acompanhou sua mulher durante a reunião. Além de ter um cargo honorário no governo da mãe, Dávalos era gerente de projetos da Caval.
Em 2014, a secretaria do Ministério da Habitação responsável pela região onde foram comprados os terrenos solicitou um novo plano diretor. Isso valorizou as terras. O plano deve ser alterado para desfazer esses efeitos, mas isso só ocorrerá em 2016.
Dávalos disse que o negócio não foi ilegal, mas renunciou na sexta-feira (13) ao cargo de diretor sociocultural da Presidência, reconhecendo que o caso causou danos à presidente e ao governo. "Se eu quisesse ganhar dinheiro fácil, não trabalharia para o Estado", disse, queixando-se por ter sido criticado ao mesmo tempo por ter atividades públicas e particulares.
Osvaldo Andrade, líder do Partido Socialista, de Michelle Bachelet, disse não ver irregularidade na reunião, mas criticou Dávalos por não imaginar as consequências políticas da revelação.
"Foi um tremendo erro político. Esse simplismo de dizer que foi uma reunião entre particulares é um erro", disse o político. "Como pode ser entre particulares quando está envolvida uma pessoa que tem alta conotação política, queiramos ou não? Não é um problema de boas ou más intenções", afirmou.
Os partidos responsáveis pelas duas denúncias foram o partido Renovação Nacional, de centro-direita, e a União Democrática Independente, de direita.
A presidente, que está em férias, ainda não se manifestou a respeito.