Prefeito sabia que era vigiado e foi empurrado durante sua prisão
Antonio Ledezma sabia que vinha sendo seguido pelo serviço de inteligência e, na hora da prisão, foi empurrado, mas não golpeado, como inicialmente divulgado por aliados.
As circunstâncias da captura de Ledezma foram relatadas em detalhe à Folha por assessores do prefeito metropolitano na manhã desta sexta (20), quando a reportagem visitou o escritório de onde ele fora levado na véspera pelo Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin).
Embora soubesse que estava sendo monitorado, Ledezma preocupou-se ao perceber uma presença muito maior de agentes do Sebin nas redondezas do prédio onde mantém seu escritório particular, numa zona comercial de classe média a leste de Caracas.
"O prefeito esteve em um enterro na parte da manhã. Depois disso, ele almoçou e, ao entrar no prédio, viu que havia algo estranho", disse uma colaboradora.
"Foi aí que ele resolveu postar o tuíte [às 17h04 locais] anunciando que o prédio estava cercado. Em seguida, a portaria ligou para avisar que os agentes estavam subindo."
Segundo assessores, os homens chegaram destruindo a porta de vidro do escritório, sem sequer tocar a campainha.
O chão ainda estava coberto com cacos de vidro. Não havia outros sinais visíveis de destruição do local, que o prefeito usa porque a sede da Prefeitura Metropolitana está situada em área governista.
Os agentes, muitos armados e alguns encapuzados, entraram na sala de Ledezma, que pediu um tempo para colocar seu casaco. Ele acabou sendo levado aos empurrões, segundo relato de testemunhas diretas.
"Ele não chegou a sofrer ataques físicos", ressaltou seu advogado, Omar Estacio.
SEM LUXO
O escritório de Ledezma é confortável, mas sem luxo.
Sua sala de trabalho se divide em dois ambientes. Um, com ampla poltrona, mesa imponente e biblioteca, é usado para receber visitas.
Outro, na cabeceira de uma mesa de reuniões e com um quadro retratando o herói da independência Simon Bolívar na parede, serve como local de encontros com assessores de seu partido, Bravo Pueblo.
O escritório tem fotos de seus cinco filhos e de encontros com personalidade como o então príncipe Felipe, hoje rei da Espanha, e o ex-presidente americano Bill Clinton.