Leonardo Padura
Cuba e os profissionais
Hoje jogadores cubanos podem competir em ligas profissionais e ficar com parte da receita gerada
Uma das primeiras medidas tomadas na Cuba revolucionária foi a eliminação do profissionalismo nos esportes. No estilo soviético adotado na ilha, todos os atletas eram considerados amadores, mesmo quando sua única atividade social e de trabalho fosse precisamente a prática de alguma modalidade esportiva.
Em tempos em que o Comitê Olímpico Internacional e suas associações também dividiam rigidamente os atletas profissionais dos amadores, em muitas modalidades, o esporte cubano, com apoio irrestrito do Estado, deu um salto quantitativo e qualitativo que o levou aos primeiros planos universais, o mais alto dos quais foi um sexto lugar na Olimpíada de Barcelona, em 1992.
Além disso, os cubanos conquistaram coroas mundiais de beisebol, boxe e vôlei e muitos títulos individuais, incluindo recordes mundiais.
A queda do Muro de Berlim significou, nos esportes, a derrubada da muralha que separava os esportistas pagos daqueles considerados amadores. Ao mesmo tempo, a crise econômica que assolou Cuba a partir de então multiplicou as dificuldades para a manutenção dos níveis de gastos envolvidos na política de subvenção estatal da prática esportiva de alto rendimento.
E embora, de modo geral, a qualidade dos esportistas cubanos não tenha caído de um dia para outro, o cenário competitivo diverso começou a se fazer sentir, enquanto as dificuldades domésticas convertiam a fuga de talentos em um problema crescente, especialmente nas modalidades em que existem ligas capazes de pagar salários altos aos jogadores. Para Cuba, as maiores sangrias se produziram no vôlei e no beisebol, mas quase todas as modalidades foram prejudicadas.
Nos últimos anos, o clamor da necessidade de inserir esportistas em ligas e torneios mais competitivos terminou por abrir a porta para contratações de cubanos em circuitos profissionais. Com contratos geridos por instituições oficiais, hoje há jogadores cubanos de beisebol e vôlei que, sem se verem obrigados a fugir do país, podem competir em ligas profissionais e ficar com parte da receita gerada por seu desempenho.
Foi uma luta longa e imagino que intensa, pois se trata de uma questão não apenas econômica e esportiva, mas sobretudo política: o reconhecimento de que o esporte socialista precisa participar do esporte capitalista para desenvolver-se e também para evitar sofrer sangrias.
Mas a luta para manter alguns atletas em suas federações nacionais --em especial os muito valorizados jogadores de beisebol-- vai continuar. A diferença está na opção de continuar vivendo em Cuba e jogando por Cuba e, com sorte, obter um contrato de US$ 1 milhão ou a possibilidade de ir tentar a sorte fora do país com a esperança de assinar um passe de até US$ 60 milhões. Uma diferença nada sutil.