Líder curdo pede fim de luta contra Turquia
Preso desde 1999, Abdullah Ocalan defende 'solução democrática' para o conflito, que já matou 40 mil pessoas
Grupo étnico representa aproximadamente 20% da população turca e reivindica do governo central mais direitos
As frágeis tratativas para encerrar o conflito entre o povo curdo e a Turquia, que já dura mais de 30 anos, receberam um importante impulso neste sábado (28).
Em uma declaração lida por um aliado na TV, Abdullah Ocalan, histórico líder da etnia, que está preso desde 1999, defendeu uma "decisão histórica" a fim de obter uma "solução democrática" para a disputa.
Ocalan pediu a realização de um encontro formal do seu PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) para discutir o fim definitivo do conflito armado com o governo central turco.
Já está em vigor um cessar-fogo desde 2013, embora seja frágil e ocasionalmente quebrado pelas duas partes.
Mais de 40 mil pessoas, na maioria curdas, já morreram durante as batalhas para a criação de um Estado para a etnia no leste da Turquia.
Os curdos compõem cerca de 20% da população turca, ou 15 milhões de pessoas.
São um grupo populacional distinto, com idioma e cultura próprios.
Há comunidades significativas de curdos espalhadas também por outros países do Oriente Médio, como Irã, Iraque e Síria. São considerados o maior grupo étnico sem Estado do mundo.
Em 1978, Ocalan foi um dos fundadores do PKK, organização nacionalista considerada terrorista pelo governo turco. O grupo adotou a luta armada como tática.
Sua bandeira original era a independência do Curdistão, mas ela foi aos poucos sendo substituída pela reivindicação de um maior grau de autonomia.
Nos últimos anos, os curdos conquistaram alguns direitos, como o uso de seu idioma em escolas e meios de comunicação.
A mensagem de Ocalan na televisão foi lida pelo deputado curdo Sirri Sureyya Onder, aliado do líder.
"Estamos no processo de encerrar um conflito de 30 anos, na forma de uma paz perpétua, e nosso principal objetivo é alcançar uma solução democrática", diz a declaração do líder do PKK.
Apesar de preso há 16 anos, Ocalan mantém influência sobre as lideranças do PKK e costuma ter seus pedidos atendidos por seu partido.
Segundo analistas, a mensagem deste sábado é o passo mais importante na busca pela paz desde o cessar-fogo.
A declaração foi lida depois de uma reunião com lideranças políticas turcas, sugerindo que o governo do país tenderia a concordar com o teor do texto.