Premiê de Israel diz que discurso no Congresso não desrespeita Obama
A convite da oposição, Netanyahu falará nesta terça contra negociação nuclear entre EUA e Irã
Discurso não será 'permanentemente destrutivo', diz Obama, mas há 'discordância substancial' entre países
Na véspera de seu polêmico discurso no Congresso norte-americano, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou nesta segunda (2) que não tem a intenção de desrespeitar o presidente dos EUA, Barack Obama, com o pronunciamento.
Ele ressaltou, porém, que as negociações de um acordo sobre o programa nuclear do Irã, lideradas pelo governo americano, ameaçam a sobrevivência de Israel.
"O Irã é o principal Estado financiador do terrorismo no mundo", disse, ao mostrar no Comitê Americano-Israelense para Assuntos Públicos (Aipac, na sigla em inglês) um mapa com os laços do governo de Teerã com o terrorismo.
"Isso é o que o Irã está fazendo agora, sem armas nucleares. Imagine o que faria com armas nucleares."
Netanyahu foi convidado por congressistas da oposição para falar sobre o acordo e aceitou sem consultar a Casa Branca, gerando mal-estar diplomático entre os países.
Ele negou que o assunto tenha causado um declínio na aliança entre Israel e os EUA, que está "mais forte do que nunca." "Nunca se falou tanto de um discurso que ainda nem foi feito", disse Netanyahu sobre o pronunciamento, agendado para esta terça.
"Meu discurso não tem a intenção de demonstrar nenhum desrespeito ao presidente Obama. Também não pretende colocar Israel dentro do debate partidário nos EUA", acrescentou.
O premiê israelense afirmou, porém, ter a "obrigação moral de se posicionar sobre esses perigos enquanto ainda há tempo de evitá-los".
"Por 2.000 anos, o povo judeu não teve voz. Hoje, temos. E amanhã, como primeiro-ministro do único Estado judeu, eu pretendo usá-la."
DISCORDÂNCIA
Obama, em entrevista à Reuters, afirmou que o discurso de Netanyahu não será "permanentemente destrutivo" para a aliança entre os países, mas que há uma "discordância substancial" entre os dois sobre o assunto.
"Netanyahu disse todo o tipo de coisa. Que isso seria um acordo terrível ou que o Irã não manteria o combinado. Nada disso se tornou realidade."
As chances de chegar a um acordo, entretanto, ainda são baixas, admitiu Obama. Para isso, Teerã terá de se comprometer com uma interrupção verificável das partes sensíveis de sua atividade nuclear por ao menos dez anos.
A assessora de Segurança Nacional da Casa Branca, Susan Rice, disse ainda que é preciso evitar que um "ideal inatingível" atrapalhe.
"Sei que alguns de vocês pedirão ao Congresso que insista para o Irã abrir mão inteiramente de seu programa nuclear", disse no Aipac, em referência ao uso de energia nuclear pelo país.
"Mas isso não é viável nem atingível. O fato é que ninguém pode fazer o Irã se esquecer dos conhecimentos que já possui."
Nesta segunda, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, encontrou-se na cidade suíça de Montreux com o chanceler do Irã, Javad Zarif, para uma rodada de negociações.
Antes do encontro, Kerry afirmou que, neste momento, não há nenhum pacto total ou parcial entre os países.
"E, a não ser que o Irã tome as difíceis decisões que serão necessárias, não haverá acordo", disse. "Um acordo ruim é pior que nenhum acordo."
Zarif, por sua vez, insistiu que a retirada total e rápida das sanções contra o país terá de ser parte de qualquer resolução entre as nações.
Os países devem chegar a um rascunho do acordo até o fim do mês.