Acordo não freia Irã nuclear, diz Netanyahu
Na tribuna do Congresso dos EUA, premiê de Israel critica 'concessões' de Washington para Teerã manter programa
Discurso gera incômodo diplomático; Obama diz que Netanyahu não traz 'alternativa viável' para diálogo com iranianos
Em seu esperado discurso para uma sessão conjunta do Senado e da Câmara dos EUA, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, atacou nesta terça (3) o acordo que o governo americano e de outros cinco países tentam alcançar com o Irã até o fim deste mês.
"O acordo não impede que o Irã consiga produzir as suas armas nucleares", disse Netanyahu.
Ele criticou a continuidade do funcionamento de centrífugas do programa nuclear iraniano e disse que o acordo fará com que Teerã consiga a quantidade de urânio enriquecido necessária para uma bomba em um "tempo curto".
"Nenhum acordo é melhor que um acordo ruim, e esse acordo é ruim. Estamos melhor sem ele". Aplaudido diversas vezes pelos congressistas americanos, Netanyahu disse que o acordo é "cheio de concessões", permitindo ao Irã manter uma "grande infraestrutura nuclear".
Ele traçou diversos paralelos entre o governo do Irã e a milícia Estado Islâmico. "O Irã e o EI competem pela coroa do islamismo militante. Eles são o 'Game of Thrones' mortífero, em que não há espaço para EUA e Israel", em referência ao seriado de TV.
"Judeus nunca mais ficarão passivos diante da ameaça de genocídio. Israel não ficará sozinho, mas os EUA estão com Israel. Somos terras prometidas que compartilhamos o destino comum de valorizar a liberdade e oferecer esperança."
'NADA DE NOVO'
O presidente americano, Barack Obama, após dizer que leu a transcrição do discurso, afirmou que Netanyahu não ofereceu "nenhuma alternativa viável" e que não havia "nada de novo" no discurso. Disse ser muito parecido com um anterior em que o premiê israelense criticava o acordo provisório com o Irã.
Um dia antes, Obama já comparara o convite ao israelense a "convidar o presidente da França para discursar no Congresso" em 2003 para criticar a decisão do governo Bush de invadir o Iraque.
A porta-voz da chancelaria do Irã, Marzieh Afkham, disse que "as contínuas mentiras de Netanyahu sobre a intenção do programa iraniano são doentias e repetitivas".
O discurso foi considerado uma quebra de protocolo pelo governo americano.
Netanyahu aceitou o convite do presidente da Câmara, o republicano John Boehner, sem consultar a Casa Branca. Depois, Obama disse que não receberia Netanyahu, alegando que a tradição é não recepcionar mandatários estrangeiros em campanha --Netanyahu enfrenta eleições em duas semanas.
Tanto o secretário de Estado, John Kerry, quanto o vice-presidente americano, Joe Biden, que também é presidente do Senado, não se encontravam em Washington e tampouco viram o discurso.
Mas a sugestão de um grande boicote do partido do governo ao discurso de Netanyahu não se concretizou.
Apenas um quarto dos deputados e senadores democratas não assistiu ao discurso do premiê israelense.
Mas a líder democrata na Câmara, deputada Nancy Pelosi, da Califórnia, que assistiu ao discurso, foi dura com Netanyahu. "Foi um insulto à inteligência dos EUA. Não precisamos levar sermão para decidir se um acordo é bom ou não."