No Equador, 'vandalismo gramatical' corrige pichações
Dois homens se esgueiram pelas ruas de Quito à noite, com latas de tinta em spray e o desejo de promover uma reforma. Não são ativistas políticos ou revolucionários: são defensores radicais da gramática, engajados na missão de corrigir as pichações no Equador.
Acrescentando acentos, inserindo vírgulas e posicionando pontos de interrogação nas frases rabiscadas nos muros, os editores justiceiros fazem intervenções frequentes para expor as deficiências gramaticais de candidatos a poetas, amantes abandonados e ativistas antigoverno.
Apesar da notoriedade alcançada, o grupo Ação Ortográfica Quito mantém segredo em torno da identidade de seus membros e nunca havia dado entrevista à imprensa.
"Chamamos nossas ações de vandalismo gramatical", disse um dos membros, que revela só o apelido, Diéresis (trema, em português).
"A pichação é um ato de vandalismo. Ao corrigi-la, nós a convertemos em algo irônico."
Advogado na casa dos 30 anos, Diéresis diz que foi impelido ao ativismo por um grafite em um muro pelo qual passava com frequência, com uma pontuação lamentável.
"Eu não conseguia acreditar: havia mais de dez erros gramaticais em apenas duas sentenças", explicou.
Foram incluídos dois pontos de interrogação, dois acentos, três vírgulas, um ponto no "i" e um espaço entre "por" e "que"; uma elipse e um P incorretamente maiúsculo foram eliminados.
O resultado agora provoca mágoa e emoção, em vez de dores de cabeça semânticas.
"Erros gramaticais causam estresse. Nós apenas tornamos compreensíveis textos que, de outro modo, não transmitiriam mensagem nenhuma", diz Diéresis.
Mas ele insiste que o objetivo principal das ações não é educar, mas entreter. "Ao mesmo tempo em que promovemos o uso correto da linguagem, é uma desculpa para um pouco de diversão. A ideia de fazer o transeunte sorrir é agradável."