Nova lei dará a Maduro poderes contra opositores na Venezuela
Lei Habilitante, que deve ser aprovada no domingo, permite ação contra 'atividades internas'
Governo terá o direito de baixar decretos por seis meses em temas de segurança nacional; sanções são pretexto
Prestes a ser aprovada pelo Parlamento venezuelano, a Lei Habilitante "anti-imperialista" dará ao presidente Nicolás Maduro poderes para governar por decreto em temas de segurança nacional pelos próximos seis meses.
Entre os artigos do texto, aprovado em primeira votação na madrugada desta quarta (11), está a autorização para Maduro "proteger o povo [...] de fatores internos dirigidos a perturbar ou distorcer a produção, o comércio e o sistema socioeconômico e financeiro".
Outro trecho dá carta branca a Maduro para tomar medidas contra "qualquer atividade interna que pretenda violentar a paz e a tranquilidade pública e o funcionamento das instituições democráticas".
Tal linguagem vaga gera temores de que o governo, impopular e em crise econômica, possa usar a lei para apertar o cerco à oposição e até mesmo suspender a eleição parlamentar do segundo semestre caso julgue que tem chances de perder.
No domingo, os deputados devem ratificar o texto em segunda votação. A Lei Habilitante é um instrumento da Constituição venezuelana que dá poderes ao Executivo para governar por decreto em momentos de crise.
Maduro justificou o pedido de poderes especiais pela necessidade de responder ao decreto do presidente dos EUA, Barack Obama, que tachou a Venezuela de ameaça à segurança nacional americana e impôs sanções a sete autoridades venezuelanas.
"A Lei Habilitante serve para restringir os direitos dos venezuelanos e criminalizar os direitos políticos. Quem discorda do regime é inimigo da pátria e aliado do império", diz o jurista Pedro Nikken, vice-presidente do Instituto Interamericano de Direitos Humanos.
Há alguns meses, Maduro dizia que a eleição aconteceria em dezembro deste ano, mas nas últimas semanas, o governo passou a falar apenas em "segundo semestre".
A missão da Unasul enviada na semana passada a Caracas para amenizar tensões políticas domésticas cobrou que o governo anuncie rapidamente uma data e se comprometa a não alterá-la.
Mas a impopularidade de um governo apoiado por apenas 20% da população e a gravidade da crise econômica e do desabastecimento tornam plausível um adiamento da eleição.
"Se o governo tiver indícios de que poderá ser derrotado nas urnas, acho que seria perfeitamente capaz de usar algum pretexto de segurança nacional para cancelar o pleito", diz um analista estrangeiro que pediu para não ser identificado.
Ele lembra que, em discurso ao Parlamento na terça, Maduro disse que a Habilitante permitiria tomar medidas sem "precisar decretar o estado de exceção".
"A Lei Habilitante ficou pronta 24 horas após o decreto [de Obama], isso prova que o tema já vinha sendo discutido pelo governo, que usou os EUA como desculpa", diz o cientista político Carlos Romero.